O sabor da terra mora nas palavras do escritor Tiago Patrício. Nascido, vivido e crescido longe das grandes capitais, os seus caminhos — por mais que múltiplos — sempre retornam ao lugar de origem. O sabor é também o saber da terra, da ruralidade, que circula na sua corrente sanguínea.
Num passado recente, pois Tiago é ainda um jovem escritor, afirmou numa entrevista que precisava “fazer um exercício de esquecimento para continuar a escrever coisas novas”. E, de facto, tem escrito coisas novas, como por exemplo sobre O Estado de Nova Iorque, um dos seus livros, muito longe da sua terra de nascimento e da aldeia transmontana onde cresceu.
Talvez dentro da sua compreensão — ou no seu exercício de novidades e de esquecimentos —, estas ligações ao mundo do rural, às raízes, aos cheiros da terra passem por entre os pingos da chuva, ou seja, como marcas pouco visíveis, mas é inegável que sentimos a presença suspensa desta mesma chuva, e a possibilidade da sua queda iminente e abundante. Pressinto que os seus escritos terão sempre esta marca indelével de terra e raízes.
Esquecer, afinal, é um processo muito mais difícil e inconsciente do que aquilo que queremos fazer crer. Eu percebo este esquecimento, ante as histórias que precisamos contar, como uma grande circunferência vista do espaço e que está cheia de pegadas. Apagamos o que está à superfície, os diferentes pés que a percorreram, mas o círculo imaginário continua tatuado sob a pele ou chão que pisamos, e gravado em algum lugar esconso da memória.
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