Uma língua de enamoramento, de afetos, de pertenças, de proximidades vária, não se traduz exclusivamente numa língua natal, que a trazemos de berço, que está inscrita no nosso DNA por contingências de família e territoriais.
Nesse contexto, esta será a primeira que habitamos, na qual moldamos os primeiros passos de madureza da fala, e firmamos raízes, ou bússolas para novos nortes. A língua de nascença é, naturalmente, casa, pouso, aconchego, que primeiro habitamos, e que aprendemos a conhecer todos os seus cantos, recantos, encantos e desencantos, visíveis ou ocultos, musicais ou silenciosos, revoltados ou consensuais.
Esta língua é o primeiro amor declarado. Mas haverá outros amores como o primeiro em outras paragens, ou ser este cidadão do mundo, que muitos apregoam, é mera retórica? Para a escritora Prisca Agustoni, pode-se habitar uma língua, seja ela qual for, e a chamarmos de casa, nossa casa. Afirma isso com a simplicidade de quem domina outros idiomas, mas, sobretudo porque vive, sente, e incorpora todo um conjunto de memórias e de afetos que brotam da expressão desta nova língua adotiva.
Eu a conheço desde 2004, e toda a vez que ela surge, por algum motivo, nos meus pensamentos, a recordo como um ser deste vasto universo da língua portuguesa. Para mim, Prisca Agustoni não nasceu na Suíça, mas num qualquer lugar do Brasil que pronuncia de forma polida, clara e feminina. Um qualquer lugar do Brasil que talvez eu pudesse chamar de Ítaca ou Pasárgada.
Habitar uma língua é deixar que ela nos habite primeiro, que ela crie os seus veios, suas raízes, mais ou menos profundas, que construa histórias como quem constrói cidades povoadas. A língua de fato é uma casa, mas antes ela reside, existe, dentro de nós.
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