🔓 Luís Filipe Cristóvão

Ensaio fotográfico de Luís Filipe Cristóvão
Foto: Ozias Filho
01/04/2022

Reza a boca do povo que não devemos regressar aos locais onde fomos felizes. Talvez na sua essência, este ditado, em jeito de superstição, faça algum sentido, pois o risco de criarmos expectativas elevadas é sempre real. E qualquer coisa menor que o esperado carrega consigo o sentimento de desilusão.

Não acredito em tudo o que a sabedoria popular proclama de modo vário e farto. Sobretudo no que concerne aos dizeres sobre os lugares. Encontro-me, mais uma vez, em Santa Cruz, acompanhado pelo poeta Luís Filipe Cristóvão. Aqui, de frente para o mar, novamente, posso afirmar que me sinto feliz.

Para Luís Filipe Cristóvão, esta Santa Cruz, que não lhe é religiosa — no modo mais ortodoxo do termo —, guarda toda uma aura de espiritualidade, de misticismo, de algo que nos faz transcender, e, ao mesmo tempo, nos ensina a aquietar a mente. Diz que, desde muito novo, enamorou-se dos seus encantos, e, por isso, em 2008, dedicou-lhe uma oração em forma de livro.

Em Santa Cruz, o livro/lugar, vive-se a oração perene, e um deus maior é invocado sem que a sua presença nos seja ostensiva. Nesta oração dita em silêncio, com poemas e fotografias, cabem o sol, mares, ventos, chuva, arribas, pedras, névoas, cheiros e a sapiência ubíqua, que harmoniza e enquadra os que lá residem, ou aqueles peregrinos, que como eu, estão de passagem.

Não somos ausentes da paisagem, um mero espectador, que observa mais uma praia linda de cartão-postal; somos com ela parte integrante desta harmonia maior, que alguns chamam Deus e outros preferem nomear Natureza. E, por isso, faço minhas as palavras do livro de Luís Cristóvão:

Tenho o corpo cheio de vento, os olhos cheios de uma água escura que escorrega pelas rochas. Tenho as manhas das marés, a lucidez dos pássaros. Sou da imensidão dos espaços da luz.

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho
Luís Filipe Cristóvão
Nasceu em Torres Vedras (Portugal), em 1979. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Lisboa, é atualmente comentarista esportivo na rádio e televisão portuguesas. Publicou seis livros de poesia, iniciando-se com Registo de nascimento (2005), seguindo-se Pequena antologia para o Corpo (2007), E como ficou chato ser moderno (2007), Santa Cruz (2008, com fotografias de Ozias Filho), A cabeça de Fernando Pessoa (2009) e Famosas últimas palavras (2017). Publicou também dois livros de literatura infantil, Afonso e o livro (2010, com ilustrações de Amélie Bouvier), livro aconselhado pelo Plano Nacional de Leitura português, e Pedro Gosta (2014, com ilustrações de Miguel Carvalho).
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvio, Páginas despidas, O relógio avariado de Deus, Insulares, Os cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

Rascunho