Quem vê a sua cara, o seu jeito de ser, não vê, não consegue enxergar, imaginar, o coração da sua escrita, sua gênese, e sua missão. Eu poderia resumir aquilo que encontrei nos escritos de Kátia Gerlach da seguinte maneira: Não sei para onde vou, mas vou. Não sei o caminho que sigo, mas sigo.
Toda a narrativa desta escritora não se compadece de lugares fáceis, narrativas homogêneas com começos, meios e finais. Os textos se constroem na ausência de uma lógica, os textos não se demarcam no contexto programado, mas justamente na quase não linguagem, no lugar do entressonho, no percurso do absurdo. O caminho se faz caminhando, mas todos os caminhos nos levam a lugar nenhum.
Para o leitor pouco acostumado à corrida dos quatrocentos metros com obstáculos, torna-se ainda mais difÃcil competir na senda narrativa de Kátia Gerlach, pois nunca há fim à vista e a corrida, na verdade, é interminável. Contudo à quele que ande nas nuvens, e aprecie a construção linguÃstica como a arquitetura de um qualquer sonho que não sabemos explicar quando acordamos, mas que, mesmo sem explicação, nos persegue por variadas horas enquanto estamos acordados, o seu texto tem o poder do encantamento.
Ela afirma que não tem uma preocupação com a lógica ou com o enredo, mas o leitor irá procurar dentro de si próprio um qualquer motivo de entendimento para continuar a atravessar cada não-história que se lhe apresente à frente, até que esta lhe faça um qualquer sentido, pois a linguagem que construÃmos a cada momento precisa de um timoneiro frente ao mar revolto, só assim temos a ilusão de que há um norte algures à espera.
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