🔓 Kátia Gerlach

Ensaio fotográfico de Kátia Gerlach
Foto: Ozias Filho
01/10/2021

Quem vê a sua cara, o seu jeito de ser, não vê, não consegue enxergar, imaginar, o coração da sua escrita, sua gênese, e sua missão. Eu poderia resumir aquilo que encontrei nos escritos de Kátia Gerlach da seguinte maneira: Não sei para onde vou, mas vou. Não sei o caminho que sigo, mas sigo.

Toda a narrativa desta escritora não se compadece de lugares fáceis, narrativas homogêneas com começos, meios e finais. Os textos se constroem na ausência de uma lógica, os textos não se demarcam no contexto programado, mas justamente na quase não linguagem, no lugar do entressonho, no percurso do absurdo. O caminho se faz caminhando, mas todos os caminhos nos levam a lugar nenhum.

Para o leitor pouco acostumado à corrida dos quatrocentos metros com obstáculos, torna-se ainda mais difícil competir na senda narrativa de Kátia Gerlach, pois nunca há fim à vista e a corrida, na verdade, é interminável. Contudo àquele que ande nas nuvens, e aprecie a construção linguística como a arquitetura de um qualquer sonho que não sabemos explicar quando acordamos, mas que, mesmo sem explicação, nos persegue por variadas horas enquanto estamos acordados, o seu texto tem o poder do encantamento.

Ela afirma que não tem uma preocupação com a lógica ou com o enredo, mas o leitor irá procurar dentro de si próprio um qualquer motivo de entendimento para continuar a atravessar cada não-história que se lhe apresente à frente, até que esta lhe faça um qualquer sentido, pois a linguagem que construímos a cada momento precisa de um timoneiro frente ao mar revolto, só assim temos a ilusão de que há um norte algures à espera.

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho
Kátia Gerlach
Nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e vive em Nova York desde 1998. É escritora, poeta e artista visual. Colisões BESTIAIS (Particula)res e Jogos (Ben)ditos e Folias (Mal)ditas são dois de seus livros publicados pela Confraria do Vento. Antes, publicou Forrageiras de Jade (2009) e Forasteiros (2013), editados pelo Projeto Dulcineia Catadora. Organizou as coletâneas Nosotros pela Oito e Meio e, com Alex Staut, Perdidas histórias para crianças que não tem vez, pela Imã Editorial. Recebeu o prêmio Escritora Sem Fronteiras no festival literário Flipoços em 2018.
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvio, Páginas despidas, O relógio avariado de Deus, Insulares, Os cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

Rascunho