Liberdade, igualdade; e a fraternidade que nos falta. Um ideário que nunca se cumprirá enquanto deixar de fora da equação o fraterno que sempre foi o utópico de cada um de nós. Talvez este vazio da fraternidade, que não temos, explique melhor a trajetória do ser humano ao longo da história, e os seus constantes e repetidos atropelos. Talvez explique que duas grandes guerras, mais outros tantos conflitos diários, não foram suficientes para acalmar os ânimos de um ser humano que aparentemente tem no bélico o seu instinto natural.
Talvez elucide que, em meio a tantos outros dilemas, sejamos incapazes de resolver os dramas de todos aqueles sedentos de pão e casa. Talvez a falta de fraternidade esclareça de uma vez por todas o porquê de sermos incapazes de resolver as alterações climáticas, pois para isso é preciso que esqueçamos as nossas pequenas quizílias, e deixemos de lado o deus dinheiro. Sem a fraternidade, os outros dois conceitos serão voláteis, e nos deixarão as mãos cheias de água, algo que temos a sensação de que agarramos, mas que se nos escapa por entre os dedos.
A fraternidade vem como tema, na medida exata, quando tenho em mãos o mais recente livro, Exosfera, de Flávia Rocha. A poeta descreve por meio de uma personagem, um astronauta, todo o desencanto que lhe vai na alma. Estamos em 2121, e o planeta está pela hora da morte, agoniza um pouco a cada dia, se extingue com a mesma naturalidade em que se morre, e o nascimento agora reside na terra do utópico. O ser humano finalmente conseguiu com a sua “igualdade”, com a sua “liberdade” – de costas viradas ao outro – a falência do planeta.
A poeta, com a sua linguagem cifrada, experimental, dá bem a noção da falta de entendimento, de recursos, de soluções à vista. Estamos de fato na exosfera, na camada mais externa da atmosfera terrestre a partir da superfície, distantes o suficiente daquilo que nos mata e próximos de um espaço sideral que não garante a esperança. Somos este astronauta, ou a voz lírica de Flávia, leitores do desencanto, daquilo que se passa defronte dos nossos olhos, da extinção diária sem contemplações ou remédios possíveis.
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