Fulano odiava Dalton (Wanderléa como era afetivamente conhecida), Cicrano também era adepto da mesma cartilha do ódio, depois vieram Beltrano e uma série de gente que trazia nos olhos o vermelho do sangue irado, os ares do preconceito sem limites, sem dó, sem nada que aplacasse a própria impotência do leitor que, dessa forma, não pode evitar o chute na cara, o pontapé que atingiu o crânio, o outro que quebrou uma costela, a cusparada, o mijo quente na cara da bicha (personagem) que jazia no chão refugiando-se no alento de algumas memórias. O leitor não conseguiu salvar o que para si é dignidade.
Ficção no papel. Realidade no dia a dia de muitas cidades brasileiras ou de tantos países que não respeitam a diferença. A impotência de Dalton/Wanderléa, a mesma do leitor, que só pode ajudá-lo repudiando este tipo de situação na sua realidade, era também a impotência da narradora do conto Uma das mil e uma noites que, não suportando tamanha brutalidade, pediu socorro à autora, Eltânia André, e esta calou a violência presente no papel.
É ela a Sherazade que pelo menos eliminou uma das mil e uma noites desta história de muitos cotidianos diários. Diz Eltânia, na sua voz de autora, narradora ou outra, como se de uma entidade ubíqua se tratasse: “Enquanto escrevia este infame e exagerado conto, outra voz saltou: você pode salvá-lo, não deixe o narrador sequestrar a sua força, não alimente a selvageria dos personagens, eles estão ávidos por existir nessa penumbra de ódio e insanidade, eles querem o alento do mercado para se venderem como literatura”.
Desta vez, os personagens — nenhum deles — não levaram vantagem sobre a autora. Não seguiram pela noite como se fossem donos dos seus narizes.
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