🔓 Duda Las Casas

Ensaio fotográfico de Duda Las Casas
Foto: Ozias Filho
01/02/2023

O poema dura na queda diz: “Olhar para o alto/ no grito do falcão/ o/ aviso/ para antecipar o voo/ em pleno ar/ ao/ invés de cair/ eu/ poderia apenas/ ter feito um poema”. Eu não resisto em fazer um trocadilho fácil entre o título do poema, um daqueles que estão no livro Viseira, com o nome da sua escritora. Assim sendo o altero, sem autorização, para Duda na queda. O faço, já que tudo o que está escrito no poema, diz muito da sua autora, e do que a cerca. Nas quase duas horas em que estive em conversa com a poeta, fica claro que, de fato, como diria Luiza Neto Jorge, “O poema ensina a cair/ sobre os vários solos”. A escritora brasileira Duda Las Casas alterna entre o voo e a queda com a experimentação da poesia, nas várias faces que compõem um enorme caleidoscópio que se funde com a vida.
Como imigrante em Portugal, Duda faz da palavra, e da poesia em particular, a sua forma de sobrevivĂŞncia real e metafĂłrica. Como pesquisadora da lĂ­ngua portuguesa, usa a palavra nas suas diversas iniciativas. Uma delas como consultora, ou psicĂłloga, ou como uma divindade que usa as suas cartas-palavras (um tarĂ´ poĂ©tico) para interceder na vida do outro dando resposta aos seus questionamentos, e deste seu oráculo nĂŁo sĂł leva a poesia ao outro, como faz da experiĂŞncia o seu prĂłprio laboratĂłrio e sustento. Mais que isso, a escritora Ă© uma colecionadora de imagens e de objetos lĂşdicos, que ela integra nas suas performances.Por todo este universo, de oráculos-imagens-objetos-brinquedos-bugigangas, que faz parte do seu modo literário de viver, Duda (que em espanhol significa dĂşvida) faz irromper na vida de outrem, e dela prĂłpria, o questionamento de quanto vale um poema. Vale muito, vale pouco, vale o seu peso em ouro, ou o preço da banana na feira? Vale o peso dos silĂŞncios, das dĂşvidas, da expiação, dos descaminhos? Ou vale a luz, a clareza que eleva o espĂ­rito Ă  transcendĂŞncia, Ă  libertação, Ă  catarse? Ou será apenas uma maneira de constelar as palavras… divinizá-las? Por isso, eu nĂŁo resisto em fazer outro trocadilho fácil com o tĂ­tulo do poema: DĂşvida na queda.

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

 

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho
Duda Las Casas
Nasceu no Rio de Janeiro (RJ). Poeta, artista visual e diretora de tevê e cinema. É colecionadora de imagens e oráculos, e pesquisadora de língua portuguesa na Universidade Nova de Lisboa. Publicou Viseira (7Letras, 2021) e participa da coletânea Volta pra tua terra (Urutau, 2021).
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvio, Páginas despidas, O relógio avariado de Deus, Insulares, Os cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

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