🔓 António Carlos Cortez

Ensaio fotográfico de António Carlos Cortez
Foto: Ozias Filho
01/07/2022

“Livro só existe no plural”, segundo o belo poema Caprichos bibliográficos, de Fernando Fiorese. É a partir desta proposição que me aventuro no caminho da floresta, chamado Um dia Lusíada, de António Carlos Cortez. Um livro que nos apresenta toda uma biodiversidade de gêneros literários, inaugurando, que eu saiba, algo pouco comum no seio da literatura de língua portuguesa.

Pode um livro ser muitos livros? E se dentro de um livro encontrássemos outro, e um outro, e mais um outro, infinitamente. Pode um livro ser poesia, prosa, ensaio, teatro, jornalismo, ou outro tema qualquer, gêneros que se complementam, dentro de um livro só?

E se no meio do caminho não encontrássemos só uma pedra, mas pedras que, de tão numerosas, apontassem para um mundo de possibilidades, caminhos imaginários ou não, tortuosos ou não. Pode um livro romper tradições sedimentadas, mesmo quando nos encontramos na segunda década do século 21?

Pode e deve um escritor ser vário nos seus gêneros, ou deve permanecer legitimamente obsessivo a uma única paixão? Ou a paixão tem várias faces escondidas sob a mesma face, e pouco aproveitadas?

Pode e deve o escritor romper com as convenções, e por vezes não seguir fórmulas e conversar apenas com o seu umbigo, ser fiel ao seu planeta literário, às suas memórias e tradições, e por isso ser corajoso e esperar que os outros mostrem os seus dentes afiados contra o que é novo?

A resposta é afirmativa: todos os gêneros cabem num livro só, não existe apenas uma fórmula. E este será diferente a cada nova aventura na floresta, pois que cada leitor — inclusive o escritor-leitor — carrega em si um Fernando Pessoa e os seus heterônimos. Se somos muitos, por que um livro deve apenas ser um? Se somos muitos, o resultado de qualquer leitura será sempre diverso. No universo literário, dois mais dois nunca será igual a uma qualquer lógica matemática.

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

 

 

António Carlos Cortez
Nasceu em Lisboa (Portugal), em 1976. Poeta, ensaísta e crítico literário, é colaborador permanente do “Jornal de Letras”, onde assina a coluna quinzenal de crítica literária Palavra de Poesia, e colaborador permanente da revista “Colóquio-Letras”. É professor de português e de literatura portuguesa e investigador do Centro de Estudos Humanitários da Universidade do Minho. Entre seus livros, destacam-se “A sombra no limite” (Gótica, 2004), “Depois de dezembro” (Licorne, 2010 — Prémio Sociedade Portuguesa de Autores em 2011), “O nome negro” (Relógio d’Água, 2013), “Animais feridos” (Dom Quixote, 2016) e a antologia “A dor concreta” (Tinta-da-China, 2016 — Prémio Teixeira de Pascoaes – Associação Portuguesa de Escritores/2018). “Um dia Lusíada” (Editorial Caminho) é o seu primeiro romance. No Brasil, a Jaguatirica publicou “O tempo exacto – antologia pessoal”, “Corvos Cobras Chacais” (semifinalista do prêmio Oceanos) e “Poética com dicção”. Está no prelo “Voltar a ler”, sobre leitura e educação.
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvioPáginas despidas, O relógio avariado de DeusInsularesOs cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

Rascunho