Fui à procura do Meu velho guerrilheiro, do pernambucano Álvaro Filho, inspirado, segundo ele, no seu pai. Na conversa de hora e meia, não encontrei o pai “guerrilheiro”, personagem do livro; muito menos o pai real do escritor. O que constatei foi a presença forte de um autor, que nas suas entranhas carrega a vontade de um combatente de muitas lutas sociais, pelo menos por meio da escrita.
Um dos aspectos que mais me encantam na literatura é esta liberdade de sermos deuses e criarmos mundos. Assim, na ficção, podemos ser o Super-Homem, o Aladim, os 40 ladrões, o amante latino, a operária, o sindicalista, ou a mão, sem rosto, de um qualquer enredo policial, que segura a arma que irá matar o presidente.
Sim, o escritor também pode ser um assassino, um vingador, pode ir à desforra por nós, leitores de carne e osso, que apenas temos sede e fome de justiça. O escritor pode ser, inclusive, o próprio presidente assassinado, e gozar connosco — por meio da linguagem — sobre os meandros pouco claros de uma presidência.
No momento em que troco pensamentos por palavras, há uma que se destaca, após revisitar a minha conversa com Álvaro Filho: política. É lugar-comum na voz do povo que tudo termina em sexo; no verbo irascível deste escritor tudo se inicia nas questões de ordem política, que na verdade se traduz na globalidade das nossas ações.
Tudo nomeia a política. Sexo é política, futebol é política, a coragem de amar é um ato político, ser (assumidamente) de esquerda, nesses tempos sombrios e de negacionismos, é um ato de coragem, de amor, claramente um ato político. Ficar à espera que os outros resolvam por nós os problemas da nação, é um ato político, um mau ato de puro analfabetismo político. Portanto, a tentativa de matar o presidente, literariamente, é um ato político, de desabafo, e que, no nosso íntimo mais esconso, nos faz ser vingados, literalmente, no psicológico do universo literário. O meu velho guerrilheiro, ou o pai personagem do escritor, na verdade, poderia ser um pouco de cada um de nós, nalgum momento da vida.
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