🔓 Álvaro Filho

Ensaio fotográfico de Álvaro Filho
Foto: Ozias Filho
01/12/2021

Fui à procura do Meu velho guerrilheiro, do pernambucano Álvaro Filho, inspirado, segundo ele, no seu pai. Na conversa de hora e meia, não encontrei o pai “guerrilheiro”, personagem do livro; muito menos o pai real do escritor. O que constatei foi a presença forte de um autor, que nas suas entranhas carrega a vontade de um combatente de muitas lutas sociais, pelo menos por meio da escrita.

Um dos aspectos que mais me encantam na literatura é esta liberdade de sermos deuses e criarmos mundos. Assim, na ficção, podemos ser o Super-Homem, o Aladim, os 40 ladrões, o amante latino, a operária, o sindicalista, ou a mão, sem rosto, de um qualquer enredo policial, que segura a arma que irá matar o presidente.

Sim, o escritor também pode ser um assassino, um vingador, pode ir à desforra por nós, leitores de carne e osso, que apenas temos sede e fome de justiça. O escritor pode ser, inclusive, o próprio presidente assassinado, e gozar connosco — por meio da linguagem — sobre os meandros pouco claros de uma presidência.

No momento em que troco pensamentos por palavras, há uma que se destaca, após revisitar a minha conversa com Álvaro Filho: política. É lugar-comum na voz do povo que tudo termina em sexo; no verbo irascível deste escritor tudo se inicia nas questões de ordem política, que na verdade se traduz na globalidade das nossas ações.

Tudo nomeia a política. Sexo é política, futebol é política, a coragem de amar é um ato político, ser (assumidamente) de esquerda, nesses tempos sombrios e de negacionismos, é um ato de coragem, de amor, claramente um ato político. Ficar à espera que os outros resolvam por nós os problemas da nação, é um ato político, um mau ato de puro analfabetismo político. Portanto, a tentativa de matar o presidente, literariamente, é um ato político, de desabafo, e que, no nosso íntimo mais esconso, nos faz ser vingados, literalmente, no psicológico do universo literário. O meu velho guerrilheiro, ou o pai personagem do escritor, na verdade, poderia ser um pouco de cada um de nós, nalgum momento da vida.

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

 

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho
Álvaro Filho
É escritor e jornalista brasileiro e vive em Lisboa há cinco anos. É autor de sete livros, entre eles as ficções Meu velho guerrilheiro, vencedor do prêmio de melhor romance de 2017 da Academia Pernambucana de Letras, e Curso de escrita de romance nível 2, ganhador do Prêmio Hermilo Borba Filho e semifinalista do Prêmio Oceanos, além do conto Otelo, vencedor do Novos Talentos de Escrita FNAC Portugal. Escreve para o jornal Mensagem de Lisboa, é editor do canal literário Booker (www.bookertv.com) e fala sobre literatura policial no canal O Detetive Literário.
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvioPáginas despidas, O relógio avariado de DeusInsularesOs cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

Rascunho