Conversa com Aline Bei
1.
Carola: Tua escrita Ă© um acontecimento Ășnico. Ela me chamou a atenção desde o inĂcio, especialmente porque vocĂȘ narra a partir da falta. Ă beira do abismo. Uma narrativa que exige muita coragem, esse lugar da fragilidade, que a meu ver, Ă© o lugar da grande arte. Tenho pensado muito nisso, em formas de habitar a falta. De suportar nossa fragilidade, nosso desamparo. Como Ă© isso para vocĂȘ, essa trajetĂłria, esse caminho?
Aline Bei:
narro a partir de duas Perdas
que eu tive,
o Teatro
e a Poesia.
ainda que, curiosamente, eu sinta os dois pulsarem na minha linguagem, eles sĂŁo a base de tudo, o Teatro, a Poesia
e a InfĂąncia
os trĂȘs estĂŁo mais conectados dentro de mim do que consigo dizer nessas linhas.
se eu tivesse que escolher uma Ășnica palavra para o meu processo criativo
seria a InfĂąncia e
nĂŁo pisco quando digo isso, tenho Certeza, a infĂąncia Ă© o meu abandono.
ter sido pequena
moldou a mulher que eu sou.
me lembro bem da sensação: pernas adultas ao redor dos meus brinquedos
versus
a potĂȘncia do desejo (a infĂąncia) que nos leva para a fase mais divina do ser humano, o seu Começo.
escrever a partir disso
me conecta com a menina que fui, com o Palco que jĂĄ nĂŁo habito, com a Poesia e o seu vulto majestoso
a Poesia que nunca
me olhou nos olhos
no fundo, escrevo
a partir do Desejo.
Carola: Que bonito, querida. Me lembrei agora de um verso (de Borges) que a Maria Esther Maciel citou quando conversei com ela (e que me tocou muito): âSei que perdi tantas coisas que nĂŁo poderia contĂĄ-las, e que essas perdas, agora, sĂŁo o que Ă© meuâ. Fiquei pensando no que vocĂȘ disse, nessa trĂade de perdas teatro-poesia-infĂąncia, e especialmente na infĂąncia, hĂĄ uma sabedoria muito profunda na infĂąncia, eu percebi isso quando tive a minha filha, e agora vendo-a crescer. E me lembrei de uma frase do Ailton Krenak, que diz: âPerguntar para uma criança o que ela quer ser Ă© uma ofensa. Isso Ă© apagar o que ela jĂĄ Ă©â.
Aline Bei:
que lindo, Carola. penso na minha sobrinha, de dois anos. ela estĂĄ numa fase que nĂŁo quer dormir, quer estar
na vida, acesa, absorvendo, trocando, correndo por todos os cantos da casa.
quer afastar
o Cansaço, de alguma forma jå intui que viver é um jogo de perdas, mas ainda não aceita isso, e
quando dorme, finalmente
Ă© um desmaio.
ver a intensidade de sua Luta, ainda que ela habite um corpo tĂŁo pequeno, Ă© muito inspirador.
2.
Carola: Quando começou a pandemia me senti sem palavras, como se elas tivessem me abandonado, ou perdido o sentido. O livro no qual eu estava trabalhando tambĂ©m deixou de fazer sentido. Por muito tempo achei que nĂŁo seria capaz de escrever nada, mas depois a escrita veio como uma necessidade urgente, uma forma de continuar no mundo. De compreendĂȘ-lo.
Aline Bei:
a palavra como forma de continuar no mundo. ah, que Lindo, Carola!
e veja, o SilĂȘncio Ă© fundamental nesse processo de aproximação das histĂłrias que queremos contar.
Ă© preciso respeitar o Tempo. ser atravessada por Ele.
se calar, pelo Tempo que for necessĂĄrio. dizer, quando a Febre chegar.
escrever com febre, cansar os dedos, escrever caindo
do alto de um precipĂcio.
me lembrei de duas Artistas que amo e de coisas lindas que elas disseram e que guardo comigo. uma Ă© a Virginia Woolf. ela diz o seguinte:
ââŠas palavras, assim como nĂłs, para viver Ă vontade, precisam de privacidade. Sem dĂșvida, gostam que pensemos e gostam que sintamos antes de usĂĄ-las, mas tambĂ©m gostam que paremos, que fiquemos inconscientes. Nossa inconsciĂȘncia Ă© a privacidade delas; nossa escuridĂŁo Ă© a luz delas⊠DĂĄ-se aquela pausa, desce-se aquele vĂ©u de escuridĂŁo, para que as palavras se sintam tentadas a se unir num daqueles casamentos rĂĄpidos que geram imagens perfeitas e criam uma beleza imorredouraâ.
e a Pina Bausch:
âNossos sentimentos, todos eles, sĂŁo muito precisos, mas Ă© um processo muito, muito difĂcil tornĂĄ-los visĂveis. Sempre tenho a sensação de que Ă© algo com que se deve lidar com muito cuidado. Se eles forem nomeados muito rĂĄpido com palavras, desaparecem ou se tornam banais. Mas, mesmo assim, Ă© um saber preciso que todos temos, e a dança, a mĂșsica, etc. sĂŁo uma linguagem bem exata, com que se pode fazer pressentir esse saber. NĂŁo se trata de arte, tampouco de mero talento. Trata-se de vida e, portanto, de encontrar uma linguagem para a vida. E, como sempre, trata-se do que ainda nĂŁo Ă© arte, mas daquilo que talvez possa se tornar arteâ.
ou seja: vocĂȘ jamais deixou de gestar os seus Livros.
Carola: Curiosamente, o silĂȘncio nunca me incomodou, atĂ© a pandemia. Porque na pandemia (ao menos no inĂcio) era um silĂȘncio diferente daquele que eu conhecia. Como se o tempo (e as palavras) estivessem em suspenso nĂŁo sĂł no mundo lĂĄ fora, mas tambĂ©m dentro de mim. Algo muito estranho e que eu nunca havia vivenciado. Pensando agora com mais calma acho que hĂĄ silĂȘncios-vida e silĂȘncios-morte. E eu me deparei com um silĂȘncio-morte num sentido coletivo, acho que foi isso. Mas sim, concordo com vocĂȘ, a gente começa a gestar muito antes da escrita propriamente dita. Adorei as citaçÔes que vocĂȘ trouxe. Deixo aqui uma das minhas preferidas sobre o assunto, que Ă© da Suely Rolnik, em seu livro Esferas da insurreição:
Os guarani chamam a garganta de (…) âninho das palavras-almaâ. (…) Ă porque eles sabem que embriĂ”es de palavras emergem da fecundação do ar do tempo em nossos corpos (…) Que as palavras tenham alma e a alma encontre suas palavras Ă© tĂŁo fundamental para eles que consideram que a doença, seja ela orgĂąnica ou mental, vem quando estas se separam (…). Eles sabem igualmente que hĂĄ um tempo prĂłprio para sua germinação e que, para que esta vingue, o ninho tem que ser cuidado. Estar Ă altura desse tempo e desse cuidado para dizer o mais precisamente possĂvel o que sufoca e produz um nĂł na garganta e, sobretudo, o que estĂĄ aflorando diante disso para que a vida recobre um equilĂbrio â nĂŁo serĂĄ esse o trabalho do pensamento propriamente dito? (…) nĂŁo serĂĄ nisso afinal que consiste o trabalho de uma vida.
Aline Bei:
que trecho maravilhoso, esse da Suely. concordo com vocĂȘ
sobre o silĂȘncio morte e o silĂȘncio vida.
mas penso que
na palavra silĂȘncio hĂĄ muita vida, e sĂł vida.
o silĂȘncio da morte nĂŁo Ă© exatamente um silĂȘncio, Ă© uma dureza definitiva, a imobilidade perpĂ©tua. e penso que o silĂȘncio Ă© fruto de um movimento interno bastante intenso, esse de absorver a vida em suas complexidades.
gostaria de estar na sua frente agora, para dançar o que sinto em relação ao silĂȘncio, imagine
que danço.
te imagino assistindo
e assim temos o nosso diĂĄlogo mais completo
todo construĂdo a partir do enigma silĂȘncio-movimento-respiração-Dor.
3.
Carola: Tanto O peso do pĂĄssaro morto quanto Pequena coreografia do adeus sĂŁo romances escritos em versos. Como surgiu essa experiĂȘncia? Que mundos ela atravessa?
Aline Bei:
o mundo das Perdas. quando comecei a escrever, imaginei que eu era poeta. escrevia quebrando frases, mas pensava que eram versos. até que
as pessoas me contaram
que nĂŁo era poesia
(nĂŁo?)
mas também não era prosa
(nada)
era algo
que ficava na fronteira
dos gĂȘneros.
em um primeiro momento me senti Triste.
depois decidi acolher essa voz fragmentada, de vidro
investigar as suas possibilidades
e limitaçÔes
usar as minhas palavras magras, sĂŁo essas
as pedras que tenho, para traçar o meu caminho
a minha longa viagem dentro do meu pequeno cĂrculo. Â
Carola: VocĂȘ fala em perdas, e eu ao te ler agora penso em palavras-perdas, como se vocĂȘ escrevesse com palavras-perdas, e ao mesmo tempo, com palavras-pedras, numa construção muito especial. Um poema pode ser um edifĂcio, uma catedral, uma montanha, algo que se ergue a partir do nada, ou a partir de uma força primordial.
Aline Bei:
Ă© Isso.
as nossas palavras sĂŁo feitas de algum material Ăntimo + algum material que estĂĄ no mundo, uma mistura de, por exemplo, ferro e mĂĄgoa. palavra-mĂĄgoa com textura de ferro.
a minha: palavra-perda com textura de pedra.
a do Manoel de Barros: palavra-infĂąncia com textura de terra.
e a Sua? qual Ă© a mistura de elementos das suas palavras? Â
Carola: Que bonita essa ideia, essa pergunta, de que material sĂŁo feitas as nossas palavras? As minhas? Talvez: palavras-sonho (ancestral?) com textura de terra.
4.
Carola: VocĂȘ vem do teatro. HĂĄ uma atriz que escreve? Como foi essa passagem (se Ă© que houve uma passagem), do teatro para a literatura? Ou Ă© uma via de mĂŁo dupla? Que diferenças existem (ou nĂŁo) na construção de um personagem?
Aline Bei:
Ă© a minha atriz que escreve, foi ela que encontrou no silĂȘncio da pĂĄgina uma forma de se expressar, ela e a menina que fui. a escritora que estĂĄ na superfĂcie da minha pele tenta orquestrar essas vozes, mas o jorro da criação Ă© a partir do corpo teatro-infĂąncia. penso que estĂŁo todas na minha barriga. e que a minha barriga Ă© a caixa preta do teatro.
criar uma personagem no palco e na pĂĄgina tem muito em comum.
a Ășnica diferença que vejo Ă© que no livro o corpo do personagem Ă© evocado
no teatro o corpo se materializa.
mas as entranhas do processo criativo se parecem muito.
nos dois, Ă© preciso encontrar dentro de si pontes emocionais possĂveis com o personagem retratado
para colocĂĄ-lo em movimento sem julgar o seu voo, Ă© preciso colocar as coisas em movimento com o ritmo da prĂłpria coisa e nĂŁo com o seu.
é também olhar para um objeto com peso narrativo.
no teatro, chamamos esses objetos de adereços.
faço isso na literatura também, eu me aproximo
dos objetos, cheiros, tecidos para criar os meus personagens na folha.
quando eu era atriz, deixava esses portais no camarim.
agora que escrevo deixo na minha mesa de trabalho.
antes era o espelho, eu encontrando no meu rosto o rosto do meu personagem.
agora Ă© o computador, os dedos, as minhas palavras encontrando as palavras da histĂłria que quero contar.
hĂĄ um termo no teatro, para quando os atores ainda estĂŁo no processo de destrinchar o texto, discutindo as suas complexidades, entĂŁo dizemos que: âestamos em trabalho de mesaâ.
minha escritora
Ă© uma atriz em trabalho de mesa. Â
Carola: Que interessante isso, vocĂȘ diz que Ă© a sua atriz que escreve. Acho misterioso, e me lembra os heterĂŽnimos do Fernando Pessoa, e um de seus poemas mais famosos:
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta Ă© um fingidor
Finge tĂŁo completamente
Que chega a fingir que Ă© dor
A dor que deveras sente.
E os que lĂȘem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
NĂŁo as duas que ele teve,
Mas sĂł a que eles nĂŁo tĂȘm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razĂŁo,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.Â
Aline Bei:
o Fernando Pessoa Ă© o primeiro Poeta da minha vida.
e serĂĄ o Ășltimo, quero ler um verso dele quando chegar a hora de partir.
5.
Carola: Ainda sobre o teatro, eu ando muito interessada em exercĂcios de escrita e como vocĂȘ tambĂ©m dĂĄ oficinas, que exercĂcios do teatro, da preparação do ator, poderiam ser interessantes para a literatura?
Aline Bei:
eu jĂĄ fiz, em uma oficina, a experiĂȘncia de juntar os dois. estĂĄvamos em um sĂtio em Porangaba, passamos o fim de semana lĂĄ, criando.
usamos jogos teatrais
para depois, suados, vivos
os escritores-atores irem para a folha ao invés do palco.
foi muito rico porque todos estavam abertos para a experiĂȘncia.
os exercĂcios sensoriais, de concentração, toque e presença sĂŁo os melhores para um artista.
antes de escutar os outros corpos, Ă© preciso escutar o Seu.
uma provocação que sempre proponho nas minhas oficinas: convidar a pessoa mais importante da sua vida para se sentar na sua frente, em silĂȘncio. se olhem, por 15 minutos. escreva sobre a experiĂȘncia.
(hĂĄ um livro muito interessante que eu usava quando dava aula de Teatro e tambĂ©m uso nas minhas oficinas de escrita: Jogos teatrais, da Viola Spolin. vocĂȘ verĂĄ o quanto de infĂąncia que hĂĄ ali. muitos dos jogos sĂŁo brincadeiras que fazĂamos na rua, e entĂŁo me lembro de Freud: âO oposto da brincadeira nĂŁo Ă© a seriedade, mas a realidadeâ.)Â
Carola: Eu me interesso muito por esse tema, o do brincar, quando criança todos somos artistas, no sentido mais abrangente do termo, criamos o tempo todo, histĂłrias, imagens, etc. Brincar Ă© a ferramenta que a criança tem para compreender o mundo e a si mesma. Depois, ao tornar-se adulta, lhe Ă© vetada a brincadeira (porque para nossa sociedade parece algo sem objetivo), os Ășnicos que se livram dessa maldição sĂŁo os âartistasâ, Ă queles a quem a sociedade permite continuar âbrincandoâ. Imagina como seria se todos pudessem ser artistas ou continuar sendo artistas?
Aline Bei:
penso muito nisso. e de tanto pensar viro uma cabeça
andante, de perninhas minĂșsculas.
pra voltar as formas que nĂŁo assustam, desincho em versos de Sylvia Plath: Â
Dying
is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.
6.
Carola:
Em seu artigo The carrier bag theory of fiction, Ursula Le Guin fala sobre uma teoria da ficção como sacola, que remete Ă uma prĂ©-histĂłria de mulheres coletoras, em oposição Ă ficção enquanto âa jornada do herĂłiâ, que seria a narrativa daqueles que foram caçar o mamute. Ela comenta que a caça ao mamute parece realmente bem mais emocionante do que a narrativa da colheita de aveia, mas nem por isso deverĂamos ignorĂĄ-la, ao contrĂĄrio:
It is the story that makes the difference. It is the story that hid my humanity from me, the story the mammoth hunters told about bashing, thrusting, raping, killing, about the Hero. The wonderful, poisonous story of Botulism. The killer story. It sometimes seems that that story is approaching its end. Lest there be no more telling of stories at all, some of us out here in the wild oats, amid the alien corn, think we’d better start telling another one, which maybe people can go on with when the old one’s finished. Maybe. The trouble is, weâve all let ourselves become part of the killer story, and so we may get finished along with it. Hence it is with a certain feeling of urgency that I seek the nature, subject, words of the other story, the untold one, the life story.
O que seria para vocĂȘ a âhistĂłria nĂŁo contada, a histĂłria da vidaâ? Quais caminhos poderiam apontar para uma âCarrier Bag Theory od Fiction/Teoria da ficção como sacolaâ?
Aline Bei:
estou emocionada com essa perspectiva. sinto que essa Ă© a minha obsessĂŁo.
mais que trazer uma heroĂna para a cena
meu texto Ă© um exercĂcio de olhar para o micro
e entĂŁo regar, com palavras, a humanidade que hĂĄ nos pequenos gestos, uma tristeza que atravessa os dias e que de repente passa porque um jazz invadiu a sala, o marido ligou a vitrola depois de meses sem nenhuma mĂșsica.
para mim, essa busca pela Vida
estå especialmente em dois livros que amo: A balada do café triste, da Carson McCullers
e no As i lay dying, do William Faulkner. Â
Carola: Eu adoro esse ensaio. E me chama a atenção, alĂ©m do que vocĂȘ observou, a ideia de carregar algo conosco. Carregar histĂłrias, sementes, filhos, etc. Carregar Ă© um ato de amor, e tambĂ©m de sobrevivĂȘncia. E estĂĄ relacionado diretamente ao corpo, carregamos no corpo a narrativa que virĂĄ, em silĂȘncio.
Aline Bei:
que lindo. e entĂŁo, o verbo gestar de alguma forma volta
para a nossa cena.
o palco estĂĄ em Vermelho agora, veja
e entĂŁo penso, inevitavelmente, em Louise Bourgeois.
ela gostava de fazer, enquanto tomava café da manhã, pequenas esculturas com as banhas do pão.
e dizia que: Todo dia vocĂȘ tem que abandonar o seu passado ou aceitĂĄ-lo, e se nĂŁo conseguir aceitĂĄ-lo, torna-se uma escultora.
talvez seja possĂvel trocar a palavra escultora por artista.
7.
Carola: Deixo aqui um dos meus poemas preferidos da Alfonsina Storni.
ÂżQuĂ© dirĂa?
ÂżQuĂ© dirĂa la gente, recortada y vacĂa,
Si en un dĂa fortuito, por ultrafantasĂa,
Me tiñera el cabello de plateado y violeta,
Usara peplo griego, cambiara la peineta
Por cintillo de flores: miosotis o jazmines,
Cantara por las calles al compĂĄs de violines,
O dijera mis versos recorriendo las plazas,
Libertado mi gusto de vulgares mordazas?
ÂżIrĂan a mirarme cubriendo las aceras?
ÂżMe quemarĂan como quemaron hechiceras?
ÂżCampanas tocarĂan para llamar a misa?
En verdad que pensarlo me da un poco de risa.
Aline Bei:
recebo.
Acolho.
entrego, em uma Sacola
El poema que no digo,
el que no merezco.
Miedo de ser dos
camino del espejo:
alguien em mi dormido
me come y me bebe.
Alejandra Pizarnik.