Desde as primeiras leituras de ficção, Luiz Alfredo Garcia-Roza desejava ser escritor. Um dia, deixou um pouco de lado a vida acadêmica e mergulhou no mundo de crimes. Nascia um dos grandes personagens da literatura brasileira: o delegado Espinosa. A primeira aventura policial (o romance O silêncio da chuva, de 1996) rendeu a Garcia-Roza os prêmios Jabuti e Nestlé. A escolha do gênero se deu por achar o romance policial muito rico ao lidar com questões fundamentais do ser humano — nada mais justo, afinal, para um professor universitário dedicado à psicanálise, com diversos livros publicados sobre o tema, como os três volumes da Introdução à metapsicologia freudiana. Com exceção de Berenice procura (2005), o delegado Espinosa ganhou as páginas de todos os outros romances do autor e também as ruas do Rio de Janeiro, onde as tramas costumam ser ambientadas. Fantasma (2012) é sua última investigação.
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Nas minhas primeiras leituras de ficção quando jovem.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Uma escrita econômica e sem ornamentos.
• Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
O jornal, durante o café da manhã, a filosofia e a ficção (o livro da vez ou releituras) à noite.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Viva o povo brasileiro!, de João Ubaldo Ribeiro.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Silêncio e isolamento.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
As mesmas da resposta anterior.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quantitativamente, um dia com duas laudas; qualitativamente, um dia com um bom fechamento de texto.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Vencer a barreira do esquecimento e encontrar a frase procurada.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
A mosca.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
A autopromoção.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Cormac McCarthy.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível: Crime e castigo e/ou Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski. Descartável: Nenhum livro é descartável.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
O beletrismo.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Minha vida particular.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Uma embalagem de papelão no canto de uma calçada (início de Achados e perdidos).
• Quando a inspiração não vem…
… Saio caminhando pela cidade.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Hemingway.
• O que é um bom leitor?
Aquele que não abandona o livro.
• O que te dá medo?
O esquecimento.
• O que te faz feliz?
Ter acesso àquilo que Santo Agostinho, nas Confissões, chamou de “palácio da memória”.
• Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
A certeza da dúvida.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Não deixar que o autor tome o lugar do narrador ou do personagem.
• A literatura tem alguma obrigação?
Com a exterioridade? Nenhuma.
• Qual o limite da ficção?
A loucura.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Eu diria: “Falando comigo?”.
• O que você espera da eternidade?
Que ela não exista.