Sem ornamentos

Luiz Alfredo Garcia-Roza: "O jornal, durante o café da manhã, a filosofia e a ficção (o livro da vez ou releituras) à noite."
Luiz Alfredo Garcia-Roza, autor de “Berenice procura”
01/03/2014

Desde as primeiras leituras de ficção, Luiz Alfredo Garcia-Roza desejava ser escritor. Um dia, deixou um pouco de lado a vida acadêmica e mergulhou no mundo de crimes. Nascia um dos grandes personagens da literatura brasileira: o delegado Espinosa. A primeira aventura policial (o romance O silêncio da chuva, de 1996) rendeu a Garcia-Roza os prêmios Jabuti e Nestlé. A escolha do gênero se deu por achar o romance policial muito rico ao lidar com questões fundamentais do ser humano — nada mais justo, afinal, para um professor universitário dedicado à psicanálise, com diversos livros publicados sobre o tema, como os três volumes da Introdução à metapsicologia freudiana. Com exceção de Berenice procura (2005), o delegado Espinosa ganhou as páginas de todos os outros romances do autor e também as ruas do Rio de Janeiro, onde as tramas costumam ser ambientadas. Fantasma (2012) é sua última investigação.

Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Nas minhas primeiras leituras de ficção quando jovem.

 • Quais são suas manias e obsessões literárias?
Uma escrita econômica e sem ornamentos.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
O jornal, durante o café da manhã, a filosofia e a ficção (o livro da vez ou releituras) à noite.

• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Viva o povo brasileiro!, de João Ubaldo Ribeiro.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Silêncio e isolamento. 

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
As mesmas da resposta anterior.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quantitativamente, um dia com duas laudas; qualitativamente, um dia com um bom fechamento de texto.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Vencer a barreira do esquecimento e encontrar a frase procurada.

Qual o maior inimigo de um escritor?
A mosca.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
A autopromoção.

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Cormac McCarthy.

Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível: Crime e castigo e/ou Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski. Descartável: Nenhum livro é descartável.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
O beletrismo.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Minha vida particular.

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Uma embalagem de papelão no canto de uma calçada (início de Achados e perdidos).

Quando a inspiração não vem…
… Saio caminhando pela cidade.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Hemingway.

O que é um bom leitor?
Aquele que não abandona o livro.

O que te dá medo?
O esquecimento.

O que te faz feliz?
Ter acesso àquilo que Santo Agostinho, nas Confissões, chamou de “palácio da memória”.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
A certeza da dúvida.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Não deixar que o autor tome o lugar do narrador ou do personagem.

A literatura tem alguma obrigação?
Com a exterioridade? Nenhuma.

Qual o limite da ficção?
A loucura.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Eu diria: “Falando comigo?”.

• O que você espera da eternidade?
Que ela não exista.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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