Profissão solitária

Martha Medeiros: "Escrevo crônicas semanais há 27 anos ininterruptos, não posso me dar o luxo de evitar assuntos."
Martha Medeiros, autora de “A claridade lá fora”
01/06/2021

A gaúcha Martha Medeiros publica livros regularmente há mais de 35 anos — desde que percebeu que escrever ficção seria a melhor profissão para quem gosta de ficar sozinha. Estreou com os poemas de Strip-tease (1985), lançado pela coleção Cantadas Literárias, da Brasiliense, e seguiu escrevendo versos até o início dos anos 2000. Em paralelo, no ano de 1995, lançou o livro de crônicas Geração bivolt — gênero que pratica semanalmente há quase três décadas e pelo qual ganhou destaque no cenário nacional. No romance, assina os títulos Divã (2002), que vendeu mais de 50 mil exemplares, Selma e Sinatra (2005) e Doidas e santas (2008), entre outros. Vários de seus trabalhos já viraram peças de teatros e foram adaptados para outros formatos. A claridade lá fora (2020), novamente na narrativa de fôlego, é sua publicação mais recente.

• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Quando percebi que era a melhor profissão para quem gosta de ficar sozinha.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Ler livros físicos e rabiscá-los à vontade.

• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Algumas páginas do livro que eu estiver lendo, e sempre estou lendo um.

• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Jair Bolsonaro, qual seria?
Deus, um delírio, de Richard Dawkins.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Domingo de manhã, silêncio absoluto, inspirada por alguma ideia que simplesmente flua, sem precisar extraí-la a fórceps.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Na cama, antes de dormir. Melhor ainda se for inverno.

• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando consigo montar o esqueleto de uma crônica. O recheio pode ficar para o dia seguinte.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Reescrever, faxinar o texto, retirar os excessos.

• Qual o maior inimigo de um escritor?
Textos sob encomenda.

• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Não frequento o suficiente para ter alguma implicância.

• Um autor a em quem se deveria prestar mais atenção.
A paulistana Aline Bei.

• Um livro imprescindível e um descartável.
Para não repetir o que todos já sabem, Grande sertão: veredas, escolho como imprescindível O que Keith Richards faria em seu lugar?, de Jessica Pallington West. (Ok, estou brincando, mas não muito. É uma inusitada obra filosófica.) Descartável? É um adjetivo cruel quando se trata de livros. A gente sabe como é difícil escrever — e mais ainda publicar.

• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Ser terrivelmente mal escrito.

• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Escrevo crônicas semanais há 27 anos ininterruptos, não posso me dar o luxo de evitar assuntos.

• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Dentro do supermercado, observando uma folha de alface presa no carrinho.

• Quando a inspiração não vem…
Penso: mais um dia normal.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Caio Fernando Abreu. Recentemente participei de um programa literário sobre sua obra e deu a maior vontade de revê-lo e escutá-lo.

• O que é um bom leitor?
O que deixa de lado o senso crítico e se deixa seduzir 100% pela história.

• O que te dá medo?
Ser elogiada por um texto que não é de minha autoria.

• O que te faz feliz?
Ser elogiada por um texto que é de minha autoria.

• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
A certeza de que fiz bem em abandonar a carreira publicitária.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Ser clara.

• A literatura tem alguma obrigação?
A de não chatear.

• Qual o limite da ficção?
Limite nenhum. Mas seria de bom-tom dividir a edição em dois volumes quando o livro ultrapassa as mil páginas.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Fernanda Montenegro.

• O que você espera da eternidade?
Que não exista. Deus me livre da vida eterna.

A claridade lá fora
Martha Medeiros
L&PM
256 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

Rascunho