Livia Garcia-Roza nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e foi psicanalista por trinta anos. Estreou na literatura em 1995, com Quarto de menina. É autora dos romances Cine Odeon e Solo feminino (finalistas do prêmio Jabuti), Meu marido (finalista do prêmio Portugal Telecom), Milamor (finalista do prêmio São Paulo de Literatura), entre outros. Também se dedica à literatura infantojuvenil. Seu mais recente trabalho é o romance Meus queridos estranhos.
• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Quando realizei que eu era feita de palavras.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
O que perturba não tem forma definida. O escritor — o artista — é um obcecado. Um atormentado. No entanto, narrar é preciso. E impreciso. Todo ficcionista está escrevendo sua odisseia. Raramente está no controle do que escreve, isso porque a literatura nos provoca o pensamento, mexe com a nossa subjetividade, com o que temos de mais lacunar, sensível e fugidio. Gosto de estar cercada pelos livros que me modificaram, pelos guardiões da luz.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Poesia.
• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Michel Temer, qual seria?
Crime e castigo, de Dostoievski.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Não há circunstâncias ideais. Ideal é escrever.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Ideal é poder ler.
• O que considera um dia de trabalho positivo?
Quando descubro que tenho uma história.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
A poda. Sigo o conselho do poeta: “escrever é cortar palavras”.
• Qual é o maior inimigo de um escritor?
O tempo, o tempo, o tempo.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Quando ele não é literário.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção?
Ricardo Piglia.
• Um livro imprescindível e um descartável?
Imprescindível é a leitura dos clássicos. E nenhum livro é descartável. Ele pode ser mal escrito, chato, pobre, não conter vida, mas é a criação de um autor.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
O narcisismo exacerbado de seu autor; quando na verdade o que importa ao escrever é esvaziar-se de si mesmo.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Qualquer tema pode vir a entrar na minha literatura. Todo e qualquer assunto pode se tornar literário.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
De uma queda. Dou muita atenção a esses momentos. Além de disruptivos, em geral são produtivos.
• Quando a inspiração não vem…
Resta a transpiração.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Muitos… Mas para ficar apenas com um, elejo a prata da casa: o escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza.
• O que é um bom leitor?
Cada leitor produz uma narrativa. Teremos tantas narrativas quantos forem os leitores. O bom leitor é aquele que enriquece o sentido do que lê.
• O que te dá medo?
Tudo pode nos acontecer. Não estamos ao abrigo de nenhuma fatalidade. Há garras sem piedade. Mas nada disso deve retirar o prazer da criação.
• O que te faz feliz?
A gente nunca sabe quando vai ser feliz. Distraída é que vem esse sopro, essa luz, essa coisa, esse excesso na coisa, esse rio profundo de se sentir bem.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Não há guia possível. Escrever é esse jogo constante, essa coisa desequilibrada na qual insistimos. E ser escritor é estar no lugar do desamparo. Não há palavras que nos protejam delas próprias. Palavras não têm sombra.
• Qual a sua maior preocupação em escrever?
A de contar uma história.
• A literatura tem alguma obrigação?
A literatura só tem obrigação com ela mesma.
• Qual o limite da ficção?
A ficção está sempre no limite do impronunciável — do silêncio.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Certamente o ET ficaria desapontado.
• O que você espera da eternidade?
Que seja finita, pois não há quem dure.