Ao descobrir que havia alguém por trás da criação de histórias, o paulistano Tony Bellotto soube que precisaria trilhar o caminho de ficcionista — aberto a qualquer assunto, indiferente à inspiração e guiado por “todas as dúvidas, nenhuma certeza”, em busca de fazer o melhor possível. Além de uma trajetória longa no Titãs, Bellotto se dedica à literatura desde 1995, quando lançou Bellini e a esfinge, e segue produzindo até hoje. Sua publicação mais recente, Dom (2020), foi adaptada para uma série original da Amazon Prime Video, criada por Breno Silveira e com Gabriel Leone no papel principal.
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Quando descobri que alguém escrevia as histórias.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Minha obsessão literária é a família. Minha mania é reler, reler, reler.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Cada dia, um dia. Hoje é a Consciência de Zeno.
• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Jair Bolsonaro, qual seria?
Um manual irresistível de autoimolação.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Vontade.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Todas.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Aquele em que é possível avançar alguns parágrafos.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Encadear uma frase na outra e observá-las depois.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
Basicamente, tudo. As pessoas, os compromissos, o celular, o estresse, a fome, o sono, os acontecimentos.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Gosto do meio literário, não me incomoda.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
John Fante.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Pedro Páramo, do Juan Rulfo, é imprescindível. Nenhum livro é descartável.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Excesso de informação técnica. Não destruiu nem comprometeu qualquer livro de Tolstói, mas torna algumas passagens chatas.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Ela está aberta a qualquer assunto.
• Qual foi o lugar mais inusitado de onde tirou inspiração?
Caixa de sucrilhos Kellogg’s.
• Quando a inspiração não vem…
Escreva do mesmo jeito.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Tolstói.
• O que é um bom leitor?
Aquele que se lembra de levar o livro para a sala de espera do dentista.
• O que te dá medo?
A possibilidade do Bolsonaro se reeleger.
• O que te faz feliz?
Botar o ponto final num romance.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Nenhuma certeza, todas as dúvidas.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Fazer o melhor possível.
• A literatura tem alguma obrigação?
Não pode ser chata.
• Qual o limite da ficção?
Não tem limite.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Diria que não tenho líder e desconsidero o conceito.
• O que você espera da eternidade?
Que me seja breve e acabe num suspiro indolor.