João Gilberto Noll nasceu em Porto Alegre (RS), em 1946. Publicou treze livros, entre os quais O cego e a dançarina, A fúria do corpo, Bandoleiros e Solidão continental. Recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio Jabuti em cinco ocasiões. Seu romance Harmada está incluído na lista dos 100 livros essenciais brasileiros em qualquer gênero e em todas as épocas da revista Bravo!. Sua obra já foi adaptada para o cinema e o teatro, e traduzida para o espanhol, italiano e inglês.
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
O meu gosto pela experiência artística apareceu na infância, quando cantava Ave Maria de Schubert em casamentos e recitava poemas em eventos do colégio. Com a timidez da adolescência fui me aproximando da escrita, uma atividade mais solitária.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Escrever de manhã. E de uma forma compulsiva, sem deliberar muito acerca do destino dos personagens.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Poemas. De Drummond a Jorge de Lima, passando por Quintana.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Não perderia meu tempo, embora seja a favor de que ela cumpra o mandato até o fim.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Quietude. Para que eu possa tatear em paz o imaginário, que é algo escuro, convulsivo.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Estar com uma roupa confortável, deitado no meu sofá.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando sinto que cheguei àquilo que eu mesmo não tinha condições de esperar.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Justamente essa certa autonomia na fluência ficcional.
A literatura é uma atividade de incertezas.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
O medo de tocar naquilo que é calado no meio social.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Não faço vida literária. Tenho alguns amigos escritores, o que é outra coisa.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Miguel Del Castillo, autor de Restinga, livro pleno de mistérios.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Laços de família. Descartável, essas séries de livros tipo 50 tons de cinza.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
A redundância de descrições.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Todos os assuntos da matéria humana me tocam fundo.
• Qual o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Uma maçaneta.
• Quando a inspiração não vem…
Não insisto. Faço outra coisa para readquirir uma certa distração.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
John Fante, por imaginá-lo muito divertido.
• O que é um bom leitor?
Aquele que se esvazia um pouco antes da leitura (principalmente de poesia e ficção), para não recebê-la numa postura rigidamente pré-formulada.
• O que te dá medo?
O de perder o ímpeto para a escrita.
• O que te faz feliz?
Fazer 70 anos em abril próximo com a consciência diária de ser um escritor.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
A literatura é uma atividade de incertezas.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Que eu tenha uma atenção do outro lado de mim.
• A literatura tem alguma obrigação?Não tem, salvo a de transformar o leitor. O leitor tem de sair mais humanizado da leitura de um romance.
• Qual o limite da ficção?
Não há limite para uma especulação imaginária que deve levantar o tapete e mostrar o que foi esquecido pelo ramerrão do cotidiano.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me a seu líder”, a quem você o levaria?
Ao Espaço Sideral.
• O que você espera da eternidade?
Nada.