O colecionador de pequenas ideias

Lourenço Mutarelli: "Acho que o ritmo e quando sinto que o autor não cumpriu com o trato preestabelecido no começo da leitura."
Lourenço Mutarelli, autor de “Nada me faltará”
04/10/2015

Lourenço Mutarelli nasceu em 1964, em São Paulo (SP). É escritor, artista gráfico, roteirista e ator. Publicou diversos álbuns de histórias em quadrinhos. O cheiro do ralo, seu primeiro romance, foi lançado em 2002 e virou filme, dirigido por Heitor Dhalia. É autor de A arte de produzir efeito sem causa, Miguel e os demônios, Nada me faltará, O natimorto, entre outros.

Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Fiquei muito impressionado com a aceitação de O cheiro do ralo, que é meu primeiro livro, e muito fascinado com o desafio. Acho que foi a partir daí. Só comecei a me sentir realmente escritor a partir da Arte de produzir efeito sem causa, pois foi o livro mais trabalhoso até então.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Uma das manias é colecionar pequenas ideias que podem se transformar num romance. Não sei qual é a minha obsessão literária.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Eu gosto muito do dicionário analógico quando estou escrevendo.

• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Puta merda. Eu acho a leitura muito subjetiva, sempre que indico um livro, digo isso. Não sei o que indicar.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Tempo e a minha casa.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
O calor me incomoda muito. Nos dias menos quentes, entro mais fácil num livro.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Os dias em que, mesmo que não produza muito, eu perceba que o que escrevi está na mesma cadência do que estou escrevendo.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Gosto muito da parte em que pesquiso, em que penso e principalmente quando começo um livro e ele flui.

Qual o maior inimigo de um escritor?
Acho que as interferências sonoras.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
Me sinto muito à vontade nesse meio. Não lembro nada que me incomode muito, não.

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Valêncio Xavier.

Um livro imprescindível e um descartável.
Como disse, acho muito subjetivo.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Acho que o ritmo e quando sinto que o autor não cumpriu com o trato preestabelecido no começo da leitura.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Não falo muito de futebol porque não entendo nada de futebol mas isso não impede que algum personagem meu, algum dia, se interesse.

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Uma bula de um creme vaginal.

Quando a inspiração não vem…
Jogo paciência e rabisco nos meus cadernos.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Ferréz.

O que é um bom leitor?
Aquele que entende que o livro é de quem lê e não de quem escreve.

O que te dá medo?
O fim do mês.

O que te faz feliz?
Encontrar os amigos.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
É mais do que isso, sou guiado pela experimentação. É isso que me move em tudo que faço.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Quando escrevo, escrevo pra mim e a minha preocupação é manter o ritmo. No dia seguinte, quando leio o que escrevi, leio como leitor e tento perceber se consegui alcançar isso.

A literatura tem alguma obrigação?
Acho que ela deve ser verdadeira.

Qual o limite da ficção?
Eu não creio que tenha um limite.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Tentando responder essa pergunta eu escrevi um livro. Existem muitas pessoas que admiro mas não sou um seguidor.

• O que você espera da eternidade?
Que seja breve.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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