Fabrício Carpinejar tem medo da preguiça. Acorda e já arruma a cama, para evitar a tentação de mergulhar novamente nas cobertas durante o dia. Foge da malemolência que assombra os escritores. E pela sua trajetória parece mesmo que a preguiça jamais o alcançou. Nascido em Caxias do Sul (RS), em 1972, estreou na literatura em 1998 com as poesias de As solas do sol. Desde então, já publicou 30 livros, entre poesia, crônica e infantojuvenil. Seus livros já venderam mais de 100 mil exemplares. O último é a coletânea de crônicas Para onde vai o amor? (Bertrand Brasil).
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Pela minha vocação de nunca fechar uma conta e deixar livros e amores em aberto.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Sou obsessivo. Mando o texto para o email e releio, para o whatsapp e releio, para o SMS e releio, imprimo e releio. Até o último momento, releio. Sou um condenado à morte saboreando sua derradeira refeição.
• Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Leio os jornais do Rio, São Paulo, Porto Alegre e cadernos culturais de outros estados toda manhã.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Memórias póstumas de Brás Cubas. Vivemos um período similar, em que as aparências são mais importantes do que os fatos.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
De manhã cedo, enquanto não falo com ninguém, não fui contaminado pela irritação dos outros.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
No inverno, diante de uma lareira.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando esqueço que tenho que almoçar.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Inventar uma história e todos acreditarem que aconteceu. Até eu.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
A preguiça, pois ele trabalha em casa. Eu acordo e já arrumo a cama, para não vê-la me seduzindo, desarrumada, durante o dia.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
A vaidade da crítica. Jurar que uma crítica é um atestado de nascimento ou óbito. Não levar esportivamente opiniões contrárias. Todo escritor que é criticado trata de responder — desde quando literatura virou direito de resposta?
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
A prodigiosa literatura infantojuvenil de Wander Piroli
• Um livro imprescindível e um descartável.
Testamento, Paulo Mendes Campos. Descartável: qualquer antologia em que o poeta precisa pagar para ser editado.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Inverossimilhança
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Economia, de modo direto e ostensivo. Acho que nunca escreveria sobre a bolsa de valores.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Caixa d’água. No litoral gaúcho, ela é bem alta e funciona como um farol para os moleques.
• Quando a inspiração não vem…
Faço café.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e Hilda Hilst. Os três juntos. O curioso é que eles frequentaram a minha casa quando era pequeno, e nem dava bola para a conversa chata dos adultos. Pegava a bola e corria para a rua.
• O que é um bom leitor?
O que duvida do escritor e busca desvendar o que ele está escondendo em cada frase.
• O que te dá medo?
A infelicidade silenciosa de quem eu amo.
• O que te faz feliz?
A felicidade ruidosa de quem eu amo.
• Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Esperança é humildade.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Ser intenso e emocionado. Posso mirabolar, criar, fantasiar, mas jamais mentir os meus sentimentos.
• A literatura tem alguma obrigação?
A de não ser obrigada.
• Qual o limite da ficção?
O plágio.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Para minha casa.
• O que você espera da eternidade?
Que ela não venha repetir meu passado.