No silêncio da madrugada

Mariana Ianelli: "É um leitor presente, sem cordão de isolamento e sem trava de segurança."
Mariana Ianelli. Foto: Petronio Cinque
03/06/2014

A poeta e cronista Mariana Ianelli nasceu em São Paulo (SP), em 1979. Parte de uma família de artistas plásticos, reconhece que o trabalho de seu avô (o pintor, escultor e ilustrador Arcangelo Ianelli) a guiou em busca do que há de mais exuberante e substantivo na arte. Soube já na adolescência que queria ser escritora. Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, escolheu os versos como forma de arte. Dentre outros, Rimbaud, Yeats, Hilda Hilst, Emily Dickinson e Drummond fazem parte de suas leituras e releituras imprescindíveis. Estreou com Trajetória de antes, em 1999. Respectivamente, publicou Duas chagasPassagensFazer silêncioAlmádena, Treva alvorada e O amor e depois, de 2012, seu livro de poemas mais recente. Como ensaísta, publicou Alberto Pucheu por Mariana Ianelli. Com a produção que já dura mais de uma década, foi três vezes finalista do Prêmio Jabuti, ganhou o Prêmio Fundação Bunge de 2008 e recebeu menção honrosa no Prêmio Casa de las Americas. Não à toa, sua poesia já foi publicada em Portugal, Espanha, Cuba e Argentina. Estreou na crônica em 2013, com a coletânea Breves anotações sobre um tigre. Em parceria com o ilustrador Alfredo Aquino, publica aos domingos no site de crônicas Vida Breve.

Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Na adolescência.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Anotar palavras, voltar a um mesmo texto muitas vezes e de quando em quando promover uma noite de São Bartolomeu.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Poesia.

• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
O Teatro completo, de Hilda Hilst.

  Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
O silêncio da madrugada e o dia seguinte ser sábado.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Mesa limpa, telefone mudo e computador desligado.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Um verso, dois versos, uma crônica.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Apreender o ritmo de um verso ou de uma frase, e ir com ele.

Qual o maior inimigo de um escritor?
A pressa.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
Tudo quanto pode incomodar numa família.

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
A potiguar Marize Castro, que agora em 2014 completa trinta anos de poesia.

Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível: a Bíblia. Está tudo lá.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
“Defeito” lembra um problema de oficina. O perfeito na literatura também é feito de erros magníficos. O que pode comprometer um livro é teorizar em cima.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Todo assunto pode entrar, só depende de como preparar as tintas para atingir certas nuances.

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
De uma UTI.

Quando a inspiração não vem…
A transpiração não basta.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Etty Hillesum.

O que é um bom leitor?
É um leitor presente, sem cordão de isolamento e sem trava de segurança.

O que te dá medo?
A barbárie, a indiferença e o mar à noite.

O que te faz feliz?
Minha casa, meus bichos, meus afetos.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
A certeza de estar fazendo o que eu amo.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
As palavras.

A literatura tem alguma obrigação?
Fazer valer a pena romper o silêncio.

Qual o limite da ficção?
A loucura.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Minha mãe.

• O que você espera da eternidade?
Que a morte não tenha domínio.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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