Nas entrelinhas

Sônia Barros: "Se o livro for envolvente, consigo me refugiar nele até mesmo em circunstâncias desfavoráveis"
Sônia Barros, autora de “Tempo de dentro”
24/12/2018

Paulista de Monte Mor, Sônia Barros nasceu em 1968 e mora em Santa Bárbara d’Oeste desde a infância. Graduada em Letras pela Universidade Metodista de Piracicaba, desde a adolescência descobriu a necessidade de escrever. Poeta e autora de literatura infantil e juvenil, com 22 livros publicados, venceu duas vezes o Prêmio Paraná de Literatura — com Fios e Tempo de dentro, em 2014 e 2017, respectivamente, na categoria Poesia. Já no gênero infantil, o livro Tatu-balão, com ilustrações de Simone Matias, recebeu o selo Altamente Recomendável da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) e foi selecionado para a campanha “leia para uma criança”, realizada pela Fundação Social do Itaú. Seu livro mais recente é Biruta, que traz ilustrações de Odilon Moraes e nasceu de sua convivência, na infância, com uma galinha cega.

• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Na adolescência tive certeza de que escrever não era apenas um desejo, mas uma necessidade.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Escrever e reescrever o texto (ou poema) inúmeras vezes, à exaustão. Depois abandoná-lo por semanas ou meses, para então voltar a ele. A leitura final precisa ser em voz alta.

• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Poesia, sempre.

• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Michel Temer, qual seria?
Gosto de fazer indicações de leitura às pessoas que conheço. Neste caso, não tenho ideia de que pessoa ele seja. Ou, até tenho… e, por isso, prefiro não indicar nada.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Ao sentir a exigência, quase sempre urgente, de uma ideia para um texto ou poema, preciso de silêncio e solidão para fazê-lo nascer.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Se o livro for envolvente, consigo me refugiar nele até mesmo em circunstâncias desfavoráveis. Mas, sendo possível, prefiro que haja silêncio ao redor.

• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Dar à luz uma frase ou uma página, um verso ou um poema, e gostar do que nasceu.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Conseguir retratar pensamentos e emoções com palavras. E, depois, ir cortando os excessos. Aliás, a melhor parte é cortar. Mas o processo todo é mais angustiante do que prazeroso. Nunca sei se vou conseguir dar conta.

• Qual o maior inimigo de um escritor?
Falta de paciência e de autocrítica.

• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Competição de egos.

• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
A poeta, ensaísta e tradutora Vera Lúcia de Oliveira, brasileira que mora na Itália, professora na Universidade de Letras e Filosofia de Perugia, autora de O músculo amargo do mundo, entre outros.

• Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível é o que me dá vontade de voltar a ele várias vezes ao longo da vida. Descartável, o que não me envolve.

• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Quando o autor explica demais, sem deixar frestas ou entrelinhas para a inteligência e sensibilidade do leitor.

• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Qualquer assunto pode entrar, desde que me inquiete, exigindo ser escrito.

• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
De um galinheiro e da convivência, na infância, com uma galinha cega. Foi assim que nasceu meu livro mais recente, Biruta, em parceria com Odilon Moraes.

• Quando a inspiração não vem…
Cevo e espero. Enquanto isso, canto.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Convidaria dois, ambos mineiros, e que me fazem imensa falta: Angela-Lago e Donizete Galvão.

• O que é um bom leitor?
Aquele que insiste na procura até encontrar um bom livro. E, também, aquele que consegue ler nas entrelinhas, dialogando com o autor.

• O que te dá medo?
A barbárie, a falta de compaixão.

• O que te faz feliz?
Ser mãe.

• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Muitas dúvidas e a certeza de que preciso aprender, sempre.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
A escolha de cada palavra.

• A literatura tem alguma obrigação?
Apenas com ela mesma: a de ser obra de arte.

• Qual o limite da ficção?
Se tiver limite, é ficção?

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Meu líder é o meu coração. Se o ET também tiver um, que o siga.

• O que você espera da eternidade?
Que ela esteja em cada instante feliz do meu hoje.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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