Ainda criança, José Roberto Torero já estava decidido: seria escritor e astronauta. Acabou somente com a primeira opção, a qual se dedicou com devoção. Nascido em Santos (SP), em 1963, formou-se em Letras e Jornalismo pela Universidade de São Paulo e iniciou, sem concluir, cursos de pós-graduação em Cinema e Roteiro. Autor de mais de trinta livros, ganhou notoriedade em 1995, ano em que faturou o Prêmio Jabuti nas categorias Romance e Livro do Ano, com O Chalaça. Já em 2012, com o livro de contos Papis et Circenses, ficou com o primeiro Prêmio Paraná de Literatura. Começou sua carreira de cronista no Jornal da Tarde; posteriormente, escreveu textos sobre futebol para a Placar e a Folha de S. Paulo, onde ficou por mais de uma década. No livro Os cabeças-de-bagre também merecem o paraíso, reuniu cerca de trinta crônicas publicadas entre esses veículos. Ao lado de Marcus Aurelius Pimenta, publicou vários livros para crianças, entre eles Os 33 porquinhos e Branca de Neve e as sete versões. Versátil, também possui uma longa carreira como roteirista e cineasta, sendo coautor, entre outros, do roteiro do filme Pequeno dicionário amoroso e diretor do premiado curta-metragem Amor!.
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Lembro que lá pelos meus oito anos fizeram uma pesquisa na escola perguntando o que cada um queria ser quando crescesse. Respondi “escritor e astronauta”.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Uma mania é ler o texto em voz alta para ver se há rimas indesejáveis, se há excessos de “quês”, etc.
• Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Bulas de remédio. Uma literatura vital.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Começando às sete e meia da manhã, depois de um pão na chapa e um pingado.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Filas. Podem ser de banco, no correio ou numa repartição pública. Ônibus e metrô também são ótimos.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
O dia em que escrevo, ou reviso, dez mil toques (com espaços).
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
A reescrita. As últimas versões de um livro, quando a gente corta muito, é que são divertidas. Você vê o texto se acertando, encontrando o ritmo. Imagino que deve ser como o fim de uma escultura, quando você faz os detalhes que deixam a estátua realmente bela.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
Fico em dúvida entre a preguiça e a soberba. Mas as duas têm o mesmo resultado: o escritor, por preguiça ou por achar que é muito bom, não aperfeiçoa o seu texto, que assim não fica tão bom quanto poderia.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Escritores melhores em marketing do que na escrita.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Laurence Sterne. Já se presta alguma atenção nele, mas o número de teses e mesmo de leitores comuns poderia ser bem maior.
• Um livro imprescindível e um descartável.
A Bíblia, se lida como literatura. A Bíblia, se lida como manifestação divina.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Falta de tesoura e borracha para limar os excessos.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Nenhum.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Tive a ideia de fazer o Papis et Circenses olhando a capa de uma caderneta.
• Quando a inspiração não vem…
Há que ir atrás dela.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Machado de Assis.
• O que é um bom leitor?
Aquele que sujeito que entra numa livraria, abre um monte de livros, lê um pouco de cada, e aí escolhe qual vai levar para casa. Ou seja, é um leitor que escolhe os livros por si mesmo, sem se deixar levar por modas.
• O que te dá medo?
A morte, é claro.
• O que te faz feliz?
Ver alguém comprando meu livro numa livraria. Pena que seja uma felicidade rara.
• Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Só dúvidas. Que são: será que isto é bom? Este é o jeito certo de contar esta história ou deveria fazer justamente o contrário? Alguém vai ler essa joça?
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Fazer algo que eu gostaria de ler se não fosse o autor, mas apenas um leitor daquele texto.
• A literatura tem alguma obrigação?
Não.
• Qual o limite da ficção?
Nenhum. Essa é a graça.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Ao Matias, meu filho de um ano. Ele pensa que sou seu escravo. E eu tenho certeza.
• O que você espera da eternidade?
O mesmo que ela espera de mim. Nada.