Antônio Xerxenesky

Antônio Xerxenesky: "Tudo aquilo que fazemos para não escrever, bobagens com as quais perdemos um bom tempo. Exemplos? O Facebook, o Twitter, o Gmail."
Antônio Xerxenesky. Foto: André Hilgert
01/01/2012

Nascido em Porto Alegre (RS), em 1984, Antônio Xerxenesky é escritor, autor do romance Areia nos dentes — publicado em 2008 pela Não Editora e reeditado em 2010 pela Rocco — e do livro de contos A página assombrada por fantasmas, lançado no ano passado. É também editor da revista online de crítica literária Cadernos de Não-Ficção e colaborador de vários veículos com artigos sobre literatura. Abrindo a seção Inquérito, Xerxenesky responde a sete perguntas do Rascunho, tratando da dificuldade na escrita de ficção, suas obsessões literárias e a luta contra o Gmail e a louça suja na hora de sentar e escrever.

Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Por volta dos dezesseis anos, quando notei como era terapêutico escrever um conto em um jorro de palavras. Hoje em dia, porém, escrever se tornou uma atividade cada vez menos prazerosa. Produzir uma só frase de ficção virou motivo de dor de cabeça, o que não acontece quando escrevo crítica.

Quais são suas manias e obsessões literárias?
Tenho o questionável hábito de escrever ficção enquanto bebo (cerveja, uísque, cada ficção exige a sua bebida). Nunca escrevo embriagado, claro — a adolescência passou, ainda bem. Quanto às obsessões literárias, tenho alguns ídolos (Vila-Matas, Bolaño, Pynchon) que estão se tornando um fardo, e preciso constantemente tentar romper com eles.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
Encontrar pessoas que insistem para que eu leia e opine sobre o livro delas, mesmo sem elas terem lido os meus (e não demonstrando o menor interesse pela minha produção). Esse tipo de coisa é muito, muito comum, e pra lá de irritante, pois não faz o menor sentido. De que serve minha opinião se o sujeito nem sabe como é meu estilo?

Qual o maior inimigo de um escritor?
A procrastinação. Tudo aquilo que fazemos para não escrever, bobagens com as quais perdemos um bom tempo. Exemplos? O Facebook, o Twitter, o Gmail. O convite dos amigos para sair na sexta, no sábado, no domingo, na terça, na quinta. Angry birds. A pia cheia de louça suja.

Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível: Coração tão branco, de Javier Marías.
Descartável: Caçando carneiros, de Haruki Murakami.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
A preguiça formal, isto é, o apego a formas tradicionais de narrativa.

O que você espera da eternidade?
Absolutamente nada. “Eternidade” é uma palavra que não está no meu vocabulário.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

Rascunho