Rubens Figueiredo nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1956. É considerado um dos mais originais ficcionistas brasileiros contemporâneos. Autor, dentre outros, de Barco a seco (Prêmio Jabuti) e Passageiro do fim do dia. Também se dedica à tradução de autores russos e de língua inglesa. É responsável pelas traduções de clássicos como Anna Kariênina e Guerra e paz, de Tolstói.
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Era adolescente. Queria uma porção de coisas.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Não tenho mania nem obsessão.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Nenhuma.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
No momento em que escrevo isto, a mesma classe e os mesmos grupos sociais de sempre estão dando mais um golpe de Estado no Brasil. Como sempre, dizem que não é golpe. Como sempre, a mídia e o Judiciário tentam legitimar. Como sempre, manipulam uma parte da população com um discurso histérico e politicamente vazio de combate à corrupção. Um vazio que, em seguida, ganhará seu conteúdo político, por enquanto mantido na sombra, à espera. Em vez de recomendar um livro, digo que a Dilma tem todo meu apoio e reconhecimento como uma mulher extraordinária.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Estar frio como gelo (como disse Tchekhov) e ter a consciência mais clara possível acerca do assunto sobre o qual pretendo escrever.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Que o texto tenha conteúdo e seja escrito com clareza e organização.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Se a pergunta se refere à atividade de escritor, escrever, para mim, não é trabalho nem pode ser medido em termos de produtividade. Mas a expansão capitalista tende a mudar isso e transformar também essa atividade humana em mais um produto.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Se o que tenho a dizer é relevante, tudo dá prazer. Até errar.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
Acreditar que não precisa ter o que dizer.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
O meio literário nada tem de diferente em relação a outros ambientes. São pessoas iguais às outras, com os mesmos problemas e virtudes. Só que, incontestavelmente, é um ambiente tomado pela elite social, com poucas mulheres, quase nenhum negro e sem pobres. Isso afeta os critérios sobre o que se escreve.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Natalia Ginzburg. Mas, nas circunstâncias presentes, receber muita atenção pode não ser nada bom.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Não sei dizer.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Escrever a sério, ou seja, para desenvolver uma perspectiva crítica, e não para alienar o leitor, é muito difícil. Escrever mal, ou escrever páginas ruins, não é crime, não é motivo para alarde. Mesmo assim, nesse caso, nesse tipo de livro, acho que nenhum defeito é capaz, no rigor das palavras, de destruir ou comprometer o resultado.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Não sei responder.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Algo que fiz durante anos, várias vezes por semana, sem perceber. Uma experiência de alienação vivida.
Antes de levantar o nariz e responder que a literatura não tem obrigação de nada, é bom lembrar que ninguém tem obrigação de ler.
• Quando a inspiração não vem…
Azar.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Prefiro convidar minha esposa. É mais inteligente.
• O que é um bom leitor?
Aquele que relaciona sinceramente o que lê às circunstâncias da sua vida e das pessoas de seu tempo e tira o máximo proveito disso.
• O que te dá medo?
Ter feito ou fazer mal a alguém.
• O que te faz feliz?
Ter feito ou fazer algo de bom a alguém.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Quando escrevo, eu gostaria de ser guiado por questões e questionamentos.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Dizer algo de pertinente e útil.
• A literatura tem alguma obrigação?
Antes de levantar o nariz e responder que a literatura não tem obrigação de nada, é bom lembrar que ninguém tem obrigação de ler.
• Qual o limite da ficção?
Não sei.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Não existem ETs.
• O que você espera da eternidade?
Que eu saiba, só existem o tempo e a história e não vale a pena perder tempo com o que não existe.