1984 foi um ano marcante para Veronica Stigger: em seu 24 de agosto, decidiu que seria astronauta. O plano não deu certo e a gaúcha radicada em São Paulo enveredou por outro caminho — o da literatura. Doutora em História da Arte, Veronica publicou seu livro de estréia, O trágico e outras comédias, em 2003, seguido por Gran cabaret demenzial e Os anões. Desde então, trocou o terno de astronauta pela literatura de Borges e os problemas da física pelos que cria para si própria quando escreve. A seguir, a autora esnoba a eternidade, desaponta ETs e fala sobre o trabalho de escritor e o meio literário.
• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Não lembro exatamente quando. Mas lembro o momento exato em que decidi que seria astronauta. Foi às 15h14 de 24 de agosto de 1984, também conhecido como “o dia em que nevou em Porto Alegre”.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Minha maior mania, quando estou escrevendo, é me levantar para tomar água a cada quinze minutos.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Quando, enfim, consigo resolver todos os problemas que eu mesma criei para mim.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
O telefone.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Resenhistas que não lêem ou, se lêem, não compreendem os livros que estão resenhando.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Um livro imprescindível é Ficções, de Borges. Os descartáveis são também esquecíveis. Esqueci-os todos.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Não acho que os defeitos capazes de destruir um livro sejam generalizáveis. Algo que é defeito num livro pode revelar-se elemento fundamental em outro. Esta é a graça da literatura: não há receitas.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Enganar bem.
• O que você espera da eternidade?
Que não exista.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Eu diria para ele: “O senhor chegou tarde. Não há mais verdadeiros líderes. Estão todos mortos”.