Da tosse de Bandeira

Marcelino Freire: "Quando eu tinha nove anos e Manuel Bandeira tossiu em cima de mim."
Marcelino Freire, autor de “Amar é crime”
01/08/2012

Pernambucano de Sertânia, Marcelino Freire nasceu em 20 de março de 1967. Passou pelo Recife. E desde 1991 reside em São Paulo. Começou a escrever para o teatro, trabalhou como bancário e chegou a iniciar a faculdade de Letras na Universidade Católica de Pernambuco, sem concluí-la. Participou da oficina de criação literária do escritor Raimundo Carrero e publica seus dois primeiros livros de forma independente: AcRústico, em 1995, e EraOdito, em 1998.

Dois anos depois, publica Angu de sangue, livro de contos que o lançaria na cena literária contemporânea. Vence o Prêmio Jabuti de 2006 por Contos negreiros e organiza a antologia Os cem menores contos brasileiros do século. Em 2006, criou a Balada Literária, evento que reúne escritores nacionais e internacionais no bairro paulistano da Vila Madalena. Seu livro mais recente é Amar é crime, lançado em julho de 2011 pelo coletivo Edith, do qual faz parte. Nesta divertida conversa, Freire deixa claro seu traquejo de “micro contista” em respostas breves, porém afiadas.

Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Quando eu tinha nove anos e Manuel Bandeira tossiu em cima de mim.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Escrever livros que a minha família não leia.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
A rua.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Sem incenso.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Quando estou feliz leio para ficar triste.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando rasgo tudo o que escrevi naquele dia.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
A reescrita.

Qual o maior inimigo de um escritor?
O preço de seu livro.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
O vinho branco e o patê de fígado.

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Aquele meu amigo que ficou de fora da Granta.

Um livro imprescindível e um descartável.
A Bíblia, imprescindível e descartável.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Um autor mala.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
O assunto.

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Da merda da inspiração.

Quando a inspiração não vem…
Eu pego um táxi.

O que é um bom leitor?
Aquele que só lê o que quer.

O que te dá medo?
Tenho medo do meu fígado.

O que te faz feliz?
A solidão.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
A dúvida é minha única certeza.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Terminar logo para poder ir fazer outras coisas.

A literatura tem alguma obrigação?
Com o Diabo, talvez.

Qual o limite da ficção?
O que vem antes do ponto final.

O que lhe dá forças para escrever?
Saber que eu sou um covarde.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Ao Chocottone.

• O que você espera da eternidade?
Nenhuma resposta.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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