Assombrar o leitor

Ivana Arruda Leite: "Acho que cada autor tem o seu “bom leitor”. Pra mim, o bom leitor é o que se deixa levar pela história que estou contando."
Ivana Arruda Leite, autora de “Falo de mulher”
01/06/2012

Sem manias ou obsessões literárias, a escritora Ivana Arruda Leite tampouco se preocupa com a falta de inspiração: quando esta não aparece, televisão e jogos preenchem seu tempo livre, “sem culpa nenhuma”. Autora dos contos de Falo de mulher e dos romances Hotel novo mundo e Alameda Santos, entre outros, Ivana, nascida em Araçatuba (SP) em 1951, tem, sim, a preocupação de encantar e deslumbrar o leitor. Entre séries de sudoku, mahjong e sokoban, a escritora falou ao Rascunho sobre as distrações na vida do escritor, o sofrimento como força para seus livros e autores que estão no topo de suas prateleiras.

Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Lá pelos 14 anos comecei a inventar minhas próprias histórias e não parei mais.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Não tenho.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
A única leitura imprescindível no meu dia-a-dia é o jornal.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Tempo, silêncio e café.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Tempo, silêncio e café.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Com a preguiça que eu ando, quando escrevo três páginas já tô no lucro.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Quando a história, ou um personagem, me surpreende e toma um rumo inesperado.

Qual o maior inimigo de um escritor?
A internet e suas mil distrações (rede sociais, jogos e outras bobagens). Outro inimigo de peso é o bem-estar, a felicidade, um feliz encontro amoroso…

O que mais lhe incomoda no meio literário?
Tudo.

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Francisco de Morais Mendes.

Um livro imprescindível e um descartável.
Prefiro citar o primeiro livro que me foi imprescindível: Reinações de Narizinho. E o último livro descartável que li: Criatividade para o século 21, de Amit Goswami, uma bobageira sem fim.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Didatismo.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Não entraria nem entrará: escatologia.

• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
A inspiração vem sempre de um canto inusitado (dentro de mim). Não saberia classificá-los.

• Quando a inspiração não vem…
Eu vejo televisão e jogo sudoku, mahjong e sokoban sem culpa nenhuma.

O que é um bom leitor?
Acho que cada autor tem o seu “bom leitor”. Pra mim, o bom leitor é o que se deixa levar pela história que estou contando.

• O que te dá medo?
A violência.

• O que te faz feliz?
Cozinhar, ver televisão, jogar sudoku, mahjong, sokoban.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Nunca saber se o que estou escrevendo presta. Continuar escrevendo mesmo assim.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Sair do lugar-comum. Produzir literatura.

A literatura tem alguma obrigação?
Assombrar (encantar, deslumbrar) o leitor.

Qual o limite da ficção?
Nenhum.

O que lhe dá forças para escrever?
O que sempre me deu forças foi o sofrimento. Graças a Deus, tenho me sentido cada vez mais “fraca” pra escrever. Antes assim!!!

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Philip Roth (mas também poderia ser Coetzee, Vila-Matas, Ian McEwan, Amós Oz, Sándor Márai, Murakami, Cortázar, Machado de Assis).

• O que você espera da eternidade?
Que a cerveja esteja gelada.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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