Andou circulando nas redes sociais a proposição de uma lista dos dez livros que mais marcaram ou foram “influentes” — e isso virou quase mania virótica, permutada entre amigos. Não participei. Porém o assunto ficou na minha cabeça, naquele número de dez: duas mãos, uma dezena de títulos, não mais!
“Listas” assim — essa besteira recorrente — só têm alguma graça se forem de dez: os dez filmes mais importantes do cinema, as dez obras-primas da arte mundial, os dez grandes livros mais esquecidos do mundo, os dez dedos (opa!) do Lula…
Acho que só devem ser até no máximo dez, mesmo. Acima disso, tira a crispação. Sendo só dez, qualquer coisa a escolher de um grande campo de coisas, a gente se crispa, fica em posição de sentido, e, aí, escolhe com apuro que algo revela de nós mesmos. Para além desse desconforto, a coisa passa a ser um território relaxado, mais ou menos “folgado” e, talvez, sem o rigor necessário.
Dito isso, acrescento “oxênte!”, e, dois pontos: eis os livros que mais me marcaram ou “influenciaram”, lidos, relidos e incrustrados na cabeça, de onde nunca irão sair. Em outras palavras, MY “FUNDAMENTALS” BOOKS (diria o inefável xará Fernando Affonso Collor de Mello — que é membro [mole] da Academia Alagoana of Literature, conforme soaria melhor aos ouvidos de Ariano Suassuna) são os seguintes, pessoal:
1. Os sete pilares da sabedoria, de T. E. Lawrence (Meu comentário sobre ele é constituído de apenas três palavras: absoluta, necessária e inevitável.)
2. Moby Dick, de Herman Melville (O MONUMENTO SEM COMPARAÇÃO — simplesmente.)
3. Hamlet, de William Shakespeare (Todas as perguntas que morreram com o “doce Príncipe”…)
4. 20.000 léguas submarinas, de Júlio Verne (Delícia das coisas de tio “Júlio”!, leitura de uma geração que teve a sorte de acompanhar a melancolia do Capitão Nemo, e não a adolescência do insuportável jovem mago Harry Potter)
5. Lord Jim, de Joseph Conrad (Conrad, Conrad e Conrad — sempre!)
6. Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (“Bah!, o único livro brasuca dessa lista!” — reclamaria o Quaderna no coração monárquico-nacionalista de Ariano Suassuna.)
7. Conversa na Sicília, de Elio Vittorini. (Talvez o menos conhecido da lista — e, provavelmente, o mais delicadamente tecido das recordações de um homem adulto de volta ao território mítico da infância, etc.)
8. Os possessos, de F. M. D (O “Dostô” véio, aqui do pedaço, no lugar, quem sabe, que deveria ser de Os irmãos Karamazov — mas, o que fazer, se a atmosfera enlouquecida do também chamado Os demônios não me sai da cachola?)
9. O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald (Obra-prima que William Faulkner invejava.)
10. O longo adeus, de Raymond Chandler (O policial dos policiais, e sobre o qual informa José Carlos Targino: “Perguntaram a Agatha Christie qual o maior policial que ela leu e a ‘rainha do crime’ não hesitou: O longo adeus. Uma vez, eu peguei num sebo paulistano vários policiais clássicos, ou pelo menos muito lidos em alguma época passada: do Ross Macdonald, do Dashiel Hammett, do Chester Himes, de Boileau/Narcejac (de Vertigo), Maurice Leblanc e até Dauphne du Maurier (a rigor, não é novelista do gênero, mas há crimes nos seus livros, além de muito mistério, o que o velho Hitchcock adorava). Foi aí que tive conhecimento da existência de O longo adeus. Já conhecia, do Chandler, A dama do lago, do qual tenho a ótima adaptação para o cinema, do ator Robert Montgomery, feita nos anos 40. Mas as 400 páginas da obra-prima de Chandler (na minha edição) me fizeram adiar a leitura dela e acho que acabei me esquecendo.)
Depois que terminei de elaborar essa lista, em parte para mim mesmo (faz tempo que a fiz, e só agora escrevo a respeito), fui pegar os respectivos livros na estante, e, para minha própria surpresa, verifiquei que só três deles não estavam, na mesa, SEM os autógrafos dos seus autores, raridades coladas no exemplar ou assinaturas diretamente apostas neles. Os três são: William Shakespeare, Fiódor Mikhailovich Dostoiévski e F. Scott Fitzgerald.
Os demais sete livros jazem aqui com o autógrafo dos mestres — sendo que o mais difícil de adquirir (e mais caro) foi o de Herman Melville: trata-se de um fragmento da “Customs House” de Nova York, uma lista de plantão elaborada com a letra do autor de Moby Dick e por ele assinada (na última posição) entre os nomes e sobrenomes dos funcionários da aduana na qual Melville trabalhou, como inspetor, até 1885.