Paga pelo serviço e não tem nenhum parentesco com a jovem que empurra a cadeira de rodas. O passeio de meia hora, três vezes por semana, custa ao velho meio salário mínimo por mês. Calado e frágil, nos últimos anos seu único prazer é esquentar o corpo ao sol, ver o tráfego, ouvir o barulho turbulento da rua. Gosta de fazer sempre o mesmo trajeto, ela já sabe. Os primeiros minutos passam rápidos descendo do sexto andar, superando com ajuda do porteiro as escadas da entrada do edifício, cruzando cautelosamente a faixa de pedestres, desviando aqui e ali de alguma bosta de cachorro, rodando pela calçada de cimento até o jardim onde estão as árvores. Superado o percurso, estaciona com cuidado a cadeira de rodas ao lado do banco em que senta. Assim estarão os dois a compartilhar os próximos minutos do passeio: ele, instalado e taciturno, mirando os brotos das rosas; ela, apressada, o relógio.