Poema de Alexei Bueno

Leia o poema "Silvia Saint" de Alexei Bueno
O poeta Alexei Bueno, organizador da antologia “A escravidão na poesia brasileira”
01/11/2008

Silvia Saint

Teu santo nome veste
A quintessência bruta
Da arquetípica puta,
Vênus baixa e celeste.

Áurea cachorra, vaca,
Por que é que os lábios tremem
Vendo em teu rosto o sêmen
Como uma vítrea laca?

Sêmen geral, das turbas
Em teu suor diluído,
No sorriso vendido
Com que os mortos perturbas.

Exatidão vivente,
A luz pisa em teus passos,
Nos teus cílios devassos,
No olhar que arde e consente.

Cadela de ouro, glória
Pueril, sórdida e santa,
Asco que envulta e encanta,
Deusa auto-entregue à escória.

Deusa, deusa mil vezes,
Deusa de uma e mil faces,
Das rameiras rapaces,
Das cortesãs soezes.

Da Assíria e de Corinto,
De Suburra e Pompéia,
Em ti toda a alcatéia
Uiva o olvidar do instinto.

Deusa mordível, puta
Vinda a sorrir do Letes,
Talvez um dia aquietes
Tua carne alva e corrupta?

Jamais, deusa, não traias
Teus pobres fiéis que babam,
Que em êxtases se acabam
Por ti, pelas tuas aias.

Louro véu do universo,
Sacra estátua e cadela,
Pisa esta alma que vela
Teu sonho áureo e perverso.

Alexei Bueno

O poeta Alexei Bueno nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de abril de 1963. Publicou, entre outros livros, As escadas da torre, Poemas gregos, A chama inextinguível e Entusiasmo.

Rascunho