Sete Poemas do Tratado de Licantropia

Leia os poema traduzidos "sem título" de Rodolfo Häsler
01/11/2001

de Rodolfo Häsler
(tradução: Claudio Daniel)

Rodolfo Häsler, jovem poeta cubano radicado na Espanha, é uma das novas vozes da poesia latino-americana.  Reunimos aqui sete poemas do seu Tratado de Licantropia (1988), uma pequena viagem ao imaginário desse autor que navega entre o romantismo alemão, o Oriente, os ritmos e as cores do Caribe e sua própria mitologia pessoal.

1

No pruebo antídoto posible o transfusión
de cómoda muerte a la espera del vino
irreversible, del asesinato a sueldo
de los dientes, del remedio de las garras
como azores, y um sudor amargo me marca
y en la iniciación.

Não provo antídoto possível ou transfusão
de cômoda morte à espera do vinho
irreversível, do assassinato a soldo
dos dentes, do remédio das garras
como açores, e um suor amargo me marca
e na iniciação.

2

Es el ansia un Lykabethos cegado por las
sienes feroces, una seducción suave de
ojos pequeños,
es la temperatura que aumenta endemoniada
en el pelo y en la espalda,
es el fresco clima de la noche y la luna
aúlla mientras fluye el monte de los
lobos y el sudor se hinca en la recuperación
de los sentidos.

A ânsia é um Lykabethos cegado pelas
têmporas ferozes, uma suave sedução de
pequenos olhos,
é a temperatura que aumenta endemoninhada
nos cabelos e nas costas,
é o clima fresco da noite e a lua
uiva enquanto flui o monte dos
lobos e o suor se finca na recuperação
dos sentidos.

3

Ensalza, corazón, la ruta de Macao, porque
allí soñaste, allí te esperan puertos y
otro puerto, las figuras de piedra em el
parque entre estrellas, porque allí viviste
con la naturaleza en ese río que guardas
en tu cajita de té.

Exalta, coração, a rota de Macau, porque
ali sonhaste, ali te esperam portos e
outro porto, as figuras de pedra no
parque entre estrelas, porque ali viveste
com a natureza nesse rio que guardas
em tua caixinha de chá.

4

China apareció entre nosotros como un
enorme jade que duele en sus aristas,
como un lejano río de aguas fangosas
que enloda todo tu cuerpo, tu cuerpo
jade, mi cuerpo amarillo como madera.
China apareció como sábana de arroz
entre tu pelo, el agua, el barro, el soplo.

China apareceu entre nós como um
enorme jade que dói em suas arestas,
como um distante rio de águas lodosas
que macula todo teu corpo, teu corpo
jade, meu corpo amarelo como madeira.
China apareceu como um lençol de arroz
entre teu cabelo, a água, o barro, o sopro.

5

Son mías todas las ciudades y sus teatros
de sombras, y son míos también los gestos,
los ropajes, los mercados, las múltiples
sonrisas y las ofrendas, los ánades y las
flores de los sauces.
Todo asemeja a los niños que se anhelan
para sí, al entorno que eclipsa la luz
de las gargantas, de todas las gargantas
infantiles, oscilantes como la tarde detrás
de las fronteras.

São minhas todas as cidades e seus teatros
de sombras, e são meus também os gestos,
as roupagens, os mercados, os múltiplos
sorrisos e as oferendas, os marrecos e as
flores dos salgueiros.
Tudo se assemelha aos meninos que se desejam
para si, ao em torno que eclipsa a luz
das gargantas, de todas as gargantas
infantis, oscilantes como a tarde detrás
das fronteiras.

6
El momento de la feroz metamorfosis se
aproxima a mis días evasivos, a los juegos
prolongados en fauna y ramas submarinas,
a la espalda ennegrecida como huso
de carbón frutal. La fiebre se acerca
rítmica como las páginas de mis lecturas
de pasión, Shangai-Lily o el fin
de mi requerimiento, lleno de mutantes
desvelos, perenne el recorrido por las
estaciones chinas, por la lluvia china
en mi nuevo estado de aventura.

O momento da feroz metamorfose se
aproxima de meus dias evasivos, aos jogos
prolongados na fauna e ramos submarinos,
às costas enegrecidas como fuso
de carvão vegetal. A febre se aproxima
rítmica como as páginas de minhas leituras
de paixão, Shangai-Lily ou o fim
de meu requerimento, cheio de mutantes
desvelos, perene o percorrido pelas
estações chinesas, pela chuva chinesa
em meu novo estado de aventura.

7

Las bicicletas silenciosas atravesaban las
calles como alambres, las piernas subían y
bajaban como alambres en aquellos días
serenos em que el horizonte era sólo agua.

As bicicletas silenciosas atravessavam as
ruas como arames, as pernas subiam e
baixavam como arames naqueles dias
serenos em que o horizonte era só água.

Claudio Daniel

É poeta e tradutor.

Rascunho