37
Três vultos pequenos e agitados são vistos escalando a torre da tevê Regional no meio do temporal.
Para as poucas testemunhas surpreendidas nos arredores os três vultos pequenos e agitados que escalam a torre da tevê Regional no meio do temporal parecem roedores grandes e focinhudos vestindo jaqueta jeans e turbante azul.
Os detalhes ainda são confusos.
Para metade das testemunhas os três vultos são quatro.
Para a outra metade são dois.
Para metade das testemunhas a torre não é a da tevê Regional, mas a da tevê Nacional.
Para a outra metade é a da rádio Panamericana.
38
Mais algumas pessoas desistiram de esperar e se meteram na chuva. Já passava do meio-dia e a fome começava a apertar. Dois felinos famintos e encharcados vieram se juntar aos pedestres remanescentes.
O visitante se deteve nas páginas centrais do Atlas, de papel especial, mais encorpado, a fim de observar com atenção as minúcias das fotos e dos diagramas aí impressos.
Nesse momento sua única preocupação era impedir o grande desastre. Era garantir que nem uma única gota de chuva viesse a respingar nesse belíssimo trabalho de ourivesaria.
Nuvens de poeira e gás.
Nebulosas.
Muitas nebulosas.
Cabeça de Cavalo, Órion, Trífida, Hélice.
Das páginas do livro dezenas de nebulosas irradiavam para lugar algum sua luz espectral, perturbadora, fulgurante.
Histórias de insanos e sereias. Belíssima obra. Tratava-se do sexto livro do Arcada. Conhece? José Rodriguez Arcada, o argentino? Não? Foi escrito em Roma e em Paris. Se não me falha a memória, no período de 1952 a 1959, e publicado em 1962, um ano antes d’O coração transubstanciado. Exatamente, um ano antes d’O coração transubstanciado.
Na contracapa do Atlas havia uma bolsa com um bom número de acetatos, todos eles contendo reproduções de mapas celestes antigos e modernos, além da representação de diferentes constelações formadas pelo mesmo grupo de estrelas quando visto de diferentes regiões do planeta.
Um livro bastante incomum, o visitante murmurou tocando a ponta dos acetatos.
Pode apostar que sim, tratava-se realmente de um livro incomum. Concordo com você. Bastante incomum. Era dividido em quatro partes, quatro novos livros: Manual de instruções, Estranhas ocupações, Matéria plástica, Histórias de insanos e sereias.
Do que é que esse maluco está falando?!, o visitante se perguntava enquanto retirava da bolsa um dos acetatos.
O gorducho não se fazia de rogado, ia falando, era dividido em quatro partes, quatro novos livros, sim, e cada parte continha por sua vez, como convém a toda obra de ficção honesta, útil e proveitosa, um bom sortimento de pessoas e personagens às vezes naturais, às vezes sobrenaturais. Um número imenso delas, ah sim. Juro pelo que há de mais sagrado.
O visitante experimentou pôr o acetato sobre uma das páginas indicadas. O que se viu então foi um emaranhado de linhas finas e coloridas cruzando de fora a fora a área demarcada. Um emaranhado belíssimo. Olhando com mais atenção o visitante percebeu que se tratavam de pequenos desenhos sobrepostos, representando as figuras zodiacais mais conhecidas.
O centauro aqui, desenhado com linhas azuis. A balança ali, com linhas verdes. O leão acolá, com linhas vermelhas.
E assim por diante.
O gorducho continuava falando, ah sim, ele continuava tagarelando indiferente ao espanto do visitante.
E, xa, ta, men, te, dizia ele coçando embaixo do queixo, eu li esse livro várias vezes num curto espaço de tempo. Acredite se quiser. Várias histórias. Ah, o livro estava cheio delas. Mas o que eram aquelas imensas histórias curtas, aprisionadas cada uma em pouco mais de uma página e meia, duas no máximo? Pra que serviam?
Essa questão ficou solta no ar.
Pra que serviam.
Ficou solta, sem destino, sem destinatário.
Isso porque segundos antes da formulação dessa pergunta mais algumas pessoas, inconformadas com o confinamento a que haviam sido submetidas, decidiram sair em disparada. E o corre-corre quebrou qualquer possibilidade de existência de uma questão tão… Tão… Tão relevante.
Muitas pessoas. Muitas mesmo. Todas inconformadas, irritadas, chateadas. Correndo sob a chuva.
O visitante, motivado por outras considerações, também corria ao lado delas.
Mas o quê, caralho, gritou o gorducho ainda embaixo da marquise.
O visitante estava perplexo, ele realmente não conseguia acreditar no que suas pernas estavam fazendo.
Elas corriam dentro de um palmo de água, dentro da grande enxurrada que tomara conta de todo o bairro, elas corriam chutando chuva pra todos os lados.
Volta aqui, desgraçado!
A maleta caiu e desapareceu. A chuva batia na sua cara, acariciando-a com violência. A chuva picava sua pele com pontas finas, longas e dolorosas. A chuva invadia suas narinas, sua boca, seus ouvidos. A chuva não permitia que ele respirasse. A chuva o afogava.
Uma esquina. Um sinal fechado. Um tumulto de bicicletas e kombis.
Volta aqui, filho-da-puta!
O visitante corria pela rua estreita, surdo aos gritos do gorducho, preocupado apenas em não escorregar nas poças maiores, preocupado apenas com o que poderia aparecer abruptamente à sua frente — um poste, um buraco no asfalto, uma lata de lixo —, preocupado apenas com o que pudesse atrapalhar sua fuga.
Corria às cegas. Corria rindo feito um demente. Corria sem acreditar no que estava fazendo. Corria com os braços cruzados e retesados, os livros apertados contra o peito, a capa de ambos completamente encharcada.
39
A chuva.
A longa e mirabolante chuva.
A infinita precipitação atmosférica que a tudo transtorna e confunde, principalmente os gatos.
Enquanto o visitante foge eufórico com os livros sob a chuva, o bibliotecário e a mulher se preparam para a rotineira sesta logo após o rotineiro sexo depois do almoço.
Três pessoas, três sensibilidades, três mundos separados pela chuva.
Já faz doze horas que Renata e Rodrigo foram seqüestrados mas nenhum dos três sabe disso, ninguém sabe, nem a polícia nem a cidade afogada nessa chuva encarniçada, nem o bibliotecário nem Estela nem o visitante, nenhum dos três sabe.
Doze horas atrás, no meio da noite, Renata não conseguia pegar no sono.
Doze horas atrás, no meio da noite, Rodrigo levantou da cama para mijar.
Ao abrir a porta do banheiro, antes mesmo de acender a luz ele deu de cara com vários pares de olhinhos curiosos e frenéticos brilhando no escuro. Isso, o chiado ondulante que vazava de lá de dentro e o cheiro azedo de jaula imunda — o mesmo fedor característico que a jaula dos chimpanzés, no jardim zoológico, sempre empurra para dentro das narinas dos visitantes — fizeram Rodrigo dar dois passos para trás.
Mas isso foi depois.
Antes teve a conversa.
Antes de Rodrigo levantar da cama e ir ao banheiro, bem antes disso teve a conversa bastante enjoada sobre a mudança de cidade.
Não quero que meu filho nasça aqui, no meio desta sujeira toda, Renata reclamou.
Rodrigo não disse nada.
Quero ir pra longe, para o campo, não suporto mais este clima opressivo, esta falta de ar, este bafo velho e úmido.
Rodrigo não disse nada.
Quero ir para o campo, meu filho vai nascer longe daqui, meu filho vai nascer cercado pela natureza.
Rodrigo não disse nada.
Pegamos o dinheiro da poupança e compramos um sítio na fronteira com Minas. Ou mais longe, no sertão da Bahia. Ou até mesmo no Pantanal. Eu quero acordar com o sol nascendo atrás das árvores, não atrás desses prédios velhos e encardidos.
Rodrigo não disse nada.
Você não fala nada, pô? Não finge que está dormindo, não!
Nessa hora, impaciente e de saco cheio, Rodrigo levantou da cama para mijar.
40
Além de Rodrigo e Renata, muitas outras pessoas irão desaparecer nessa mesma noite. Serão no total seiscentas e sessenta e seis, mas esse número só começará a pipocar nos jornais e nos relatórios oficiais daqui a dois meses.
Esse número e o retrato de todos os desaparecidos.
Rostos impassíveis, rostos tristes, rostos cansados, rostos tortos, rostos manchados, rostos vincados. Só daqui a dois meses.
Por ora, enquanto cai a chuva, enquanto o visitante corre eufórico, enquanto o bibliotecário e a mulher relaxam do sexo e se preparam para a sesta, ninguém sabe de nada. Ninguém.
Nem mesmo os gatos.
41
O bibliotecário estava na cama, com o rosto virado para a parede.
Quieto, com o rosto virado, quase colado na parede. Porém isso não o impedia de observar com displicente atenção alguns volumes sem brilho em cima da última prateleira de uma das estantes que, grudadas umas nas outras, cobriam a parede do fundo.
Mesmo sem os óculos ele conseguia distinguir bastante bem o fio austero das lombadas. Afinal não estavam do outro lado do mundo, estavam bem na sua fuça.
Exatamente. Estavam bem na sua fuça.
Eram livros muito, muito velhos, encadernados à mão, com capa de couro, sem título estampado, sem nenhuma identificação, com a maior parte das páginas já bastante corroída e cheirando mal.
O bibliotecário observava-os aborrecido. Até quando teriam que ficar aí?
Cada um dos livros que o espreitavam do alto da estante tinha mais de duzentos anos. Talvez duzentos e cinqüenta. No entanto Frederico não sabia o que fazer com eles.
Estavam aí havia meses, por falta de um lugar melhor.
Constituíam-se, na sua maioria, de coletâneas de sermões e de outros textos doutrinários, cada qual com a magnânima missão de anunciar aos habitantes da Terra o sonolento reino de Deus.
Estranhos livros destinados à conversão dos pagãos do Novo Mundo, pensou o bibliotecário distraidamente, sem sequer se dar conta do que ia pensando.
De fato os jesuítas haviam organizado as primeiras bibliotecas no Brasil. Os livros que faziam parte delas eram obras litúrgicas voltadas exclusivamente à catequese e ao aprimoramento do espírito missionário. Apenas isso. Balela pra boi dormir.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis.
Seis livros perdidos no tempo, escritos sabe-se lá por quem.
As primeiras bibliotecas não costumavam ser muito grandes. Eram salas apertadas de paredes toscas. Então seis livros, em relação a um acervo de, vamos dizer, quarenta, tinham uma importância incontestável.
Pra dizer a verdade quarenta títulos para um bando de analfabetos eram mais do que o suficiente, pensou ele.
É, uma multidão de analfabetos.
Nessa época mesmo em Portugal não existia uma população majoritariamente letrada.
É claro que não.
No Brasil as primeiras bibliotecas nasceram graças à ação dos jesuítas.
Em cada convento, em cada biblioteca, existiu um zelador, pensou ele.
Teriam sido como ele, gordos e obstinados?
O bibliotecário virou na cama e abraçou o travesseiro como se quisesse estrangulá-lo. Aonde Estela teria ido? Como conseguira sair da cama sem que ele visse?
Coçou o saco.
Não conseguia dormir.
Merda. Eram já duas horas da tarde e ele não conseguia dormir. Simplesmente não conseguia.
Também não havia conseguido almoçar muito bem.
Arroz com pimentão, salada com molho de limão e mostarda, tomates ao forno com alecrim, feijão, bolinhos com farelo de trigo, lambaris fritos.
Não. Nada no refeitório parecia agradá-lo. Não estava com fome. Mesmo assim empurrou um lambari goela abaixo.
Levantou mal-humorado, vestiu a calça e a camisa — a camisa em cima da camiseta regata —, calçou os sapatos e foi até a janela.
Já não chovia mais.
Mas os edifícios em frente apresentavam ainda um invólucro luminoso, embaçado e morno, como se tivessem sido envernizados durante horas por um artista paciente e meticuloso, de maneira que cada fresta, cada orifício, cada ranhura de tijolo, por menores que fossem, não deixassem de receber a sua demão protetora.
Da janela o bibliotecário podia acompanhar a movimentação dos assistentes no seu escritório.
Na verdade tudo o que conseguia ver sem os óculos era o rastro colorido e desfocado de pessoas afobadas, emoldurado pelo chassi da janela, como numa dessas pinturas expressionistas feitas de uma série de pinceladas enérgicas e aleatórias.
Não conseguia ver claramente a cena mas já a conhecia de cor.
Ah, sim, já a conhecia muito bem.
Sem nenhum esforço foi reconstruindo a cena na imaginação:
Gavetas de arquivos eram abertas e fechadas. Grandes cadernos eram postos em cima de mesinhas frágeis e rangedoras. Canetas corriam pela superfície de pequenos pedaços de papel, copiando sofregamente as informações dos cadernos, dezenas de vezes alteradas. Sapatos iam e voltavam, iam e voltavam. Nada parava, nada tinha descanso.
Nessa sala apertada havia um trabalho infinito a ser executado.
Não conseguiu descansar?
O bibliotecário se assustou com a entrada brusca da mulher. Antes mesmo que a luz fosse acendida, se afastou da janela resmungando, o quê?
Não conseguiu dormir?
Como é que alguém pode dormir com um barulho desses? Diz?
Que barulho? A chuva?
Quando chove este quarto parece mais uma caixa de ressonância. Insuportável.
Já disse pra você ir fazer sua sesta noutro lugar. Por que não experimenta usar o quarto da Renata. Ou o depósito de mantimentos. Lá é bastante silencioso, não?
É mas aí não vai ter a trepadinha regular…
Grosso.
Tá na hora de pegar no batente.
Deixa a janela aberta. Isto aqui está um forno.
Onde está a porra dos meus óculos.
Odeio quando você se comporta como se tivesse oitenta anos. Toma aí a porra dos teus óculos.
O bibliotecário colocou os óculos.
O mundo finalmente ficou no foco.
Estela, agora também no foco — como tudo o mais —, pareceu mais fácil de ser compreendida quando disse, pára de se preocupar com os malditos livros, esfria a cabeça que você logo voltará a dormir melhor.
Não estou mais preocupado com merda nenhuma.
Isso muito me anima. Agora posso ficar aqui por alguns minutos, sossegada, preguiçosa. Quem sabe agora consigo até tirar uma boa soneca. O céu voltou a brilhar.
Até mais tarde.
Às vezes fico pensando… Por que não fazemos algo diferente?
Do que você está falando?
Não sei. Qualquer coisa que tire a gente desta rotina insuportável. Qualquer coisa que faça a gente se sentir mais vivo. Não sei.
Você falava a mesma coisa quando Renata ainda era bebê. Fraldas, mamadeiras, papinhas, remédios. Tudo isso deixava você extremamente injuriada. Então nossa filha cresceu e tudo mudou. Mas agora parece que as queixas voltaram. O que foi que aconteceu nesse meio tempo? Por que o tédio?
Não sei. Olha, não estou querendo me desligar totalmente daqui. Não agora, com a Renata grávida. Estava pensando que talvez podíamos tirar umas férias, viajar, desaparecer por um tempinho, quem sabe?
Férias? Não. Essa não é uma boa hora.
Essa não é uma boa hora. Sei… E quando será uma boa hora? Daqui a vinte anos?
Te vejo mais tarde.
Desceu os degraus apressadamente, passou pelo hall sem se deter em momento algum e ganhou a rua, sentindo-se enfim livre pela primeira vez nesse dia.
Livre. Mas exausto.
Exausto, sim. Mas livre.
Havia semanas que não tinha uma noite de sono que não fosse simplesmente insuportável.
Dormia mal. Revolvia-se nos lençóis. Vivia atormentado por pesadelos sufocantes.
Saltou as poças de água, as pernas e os braços abertos, pulando de pedra em pedra como se atravessasse um rio raso.
No escritório ninguém prestou muita atenção à sua chegada. Estavam atolados em trabalho e não havia tempo a perder com saudações e rapapés.
Havia um grande mapa numa das paredes laterais, cuja superfície estava completamente, ou quase completamente, coberta por milhares de alfinetes, cada qual com uma fitinha colorida pendurada no corpo magro e rígido, cada fitinha com um código inscrito em letras minúsculas.
Seguindo as ordens transmitidas, sempre por telefone, pelos funcionários do Conselho Bibliotecário do Estado, a todo momento esses alfinetes eram trocados de posição no mapa.
Zás!
A um simples trintrim, salas contendo centenas, às vezes milhares de livros, passavam de um lugar para outro sobrevoando bairros inteiros sem deixar vestígio de sua viagem absurda.
Atendendo, além do Conselho Bibliotecário, também as requisições e instruções do Serviço de Catalogação Geral, cada troca de acervo desencadeava em toda parte, por sua vez, uma série de alterações nos livros de entrada e saída da biblioteca, gerando uma infinidade de novos telefonemas, discussões, adendos e memorandos.
O bibliotecário acompanhava o vaivém dos livros de biblioteca para biblioteca, de cidade para cidade, com um olhar perdido, opaco, de morto-vivo.
Seu corpo se achava um pouco reclinado na cadeira giratória. A nuca, levemente encostada na parede.
De vez em quando sua mão direita assinava algum documento.
Mas só de vez em quando.
Mapa, fitinhas, cadernos e arquivos.
Ora, era exatamente como devia ser. Tudo seguia seu curso natural. Nada parecia fora do lugar.
De repente, uma sacudidela precedida por um calafrio rápido e fulminante.
Como?
Quem?
Uma voz. Um assovio.
Alguém atrás da porta.
Não. Espera. Não dessa porta.
Mais distante, mais distante. Atrás de outra porta, em outro prédio.
Uma centena de livros.
É. Uma voz, um assovio, uma silhueta fugidia atrás de uma porta grande e escura. E depois nada.
Nada.
Exceto uma caixa de papelão grande e pesada, contendo cem, cento e dez livros, todos novos, novíssimos, uma caixa de papelão abandonada num canto do escritório, do SEU escritório, sem que ninguém tivesse visto como, quando, quem.
O bibliotecário saltou da cadeira assustadíssimo.
Teria cochilado?
Olhou em torno.
Nada.
Nenhum indício de irregularidade.
Nadinha de nada.
Os alfinetes continuavam aí. O mapa e os funcionários continuavam aí.
Olhou em torno. Nos quatro cantos do escritório nem sinal de uma caixa de papelão grande e pesada, contendo cem, quem sabe cento e dez livros novos.
O quê?, resmungou mastigando a própria saliva, estranhando o fato de que esse queixo flácido, trêmulo e desarticulado — na realidade uma entidade autônoma que parecia se mover por vontade própria — fosse mesmo o seu queixo.
Apalpou o rosto e coçou os olhos.
Tinha cochilado.
Próximos capítulos
Depois do seqüestro de seiscentas e sessenta e seis pessoas, incluindo Rodrigo e Renata, o bibliotecário encontra-se agora preso numa caixa de papelão, que por sua vez está dentro de outra caixa um pouco maior do que a primeira, que por sua vez está dentro de outra caixa um pouco maior do que a segunda, e assim sucessivamente, até atingir a centésima primeira caixa. Ele encontra-se isolado, sem ar e sem luz, numa caixinha cheia de livros, a maioria deles muito velha. O cheiro de mofo é insuportável.