Romance-Folhetim: Poeira: demônios e maldições (6)

Capítulo 6 do folhetim "Poeira: demônios e maldições", de Nelson de Oliveira
Ilustração: Tereza Yamashita
01/04/2007

25
Então o bibliotecário mergulhou num sono profundo e a princípio tranqüilo.

Mergulhado nesse sono, passou a sonhar.

Sonhava com uma cena cômica, rocambolesca e esquizofrênica, que continha elementos de desenho animado: o picadeiro de um circo vastíssimo, colorido, estapafúrdio.

Todos aí presentes, os artistas e a platéia, apresentavam feições exageradamente deformadas e caricaturais.

O mais ridículo era que todo o circo estava montado num terreno lamacento, que era parte talvez de um manguezal. No decorrer do espetáculo as jaulas, as cadeiras, os mastros, a lona e até mesmo parte do público iam afundando vagarosamente sem esboçar nenhum protesto, sem fazer nenhum esforço para escapar do naufrágio.

De repente algo aconteceu. Algo bastante circense, mas mesmo assim também muito surpreendente.

Três palhaços foram de fusca até o centro do picadeiro.

O primeiro palhaço ligou o pisca-alerta e o limpador de pára-brisa.

O segundo palhaço desceu e estendeu o tapete vermelho.

O terceiro palhaço inclinou o banco para a mulher gorda entrar.

A mulher gorda sentou ao lado do primeiro palhaço.

O segundo palhaço buzinou três vezes.

O trapezista sentou ao lado da mulher gorda.

O terceiro palhaço abriu o porta-malas.

O primeiro palhaço sentou ao lado do trapezista.

O pipoqueiro sentou ao lado do segundo palhaço.

O terceiro palhaço abriu o capô e enrolou o tapete vermelho.

A mulher barbada sentou ao lado do engolidor de facas.

O primeiro palhaço inclinou o banco para o time de cachorrinhos.

A mulher gorda buzinou três vezes.

O time de cachorrinhos saltou dentro do porta-malas.

O segundo palhaço fechou o porta-malas e desligou o pisca-alerta.

A mulher barbada acendeu o seu cachimbo de bolha de sabão. O primeiro palhaço sentou no colo da mulher gorda. A zebra e o tigre sentaram no colo do engolidor de facas. O terceiro palhaço deu marcha à ré e dobrou à esquerda. O anão e a bailarina tropeçaram no tapete vermelho. O trapezista sentou entre o homem-bala e o mágico. O mágico sentou entre a mulher gorda e a bailarina. O domador de feras sentou ao lado do terceiro palhaço. O segundo palhaço sentou ao lado da mulher barbada e roubou o cachimbo. Chapeuzinho Vermelho sentou ao lado de Ali Babá. Branca de Neve abriu a porta para os quarenta ladrões. O primeiro palhaço pegou do porta-luvas vários cachos de uva. O Lobo Mau reclamou que as uvas estavam verdes. O coelho da cartola do mágico passou na frente e o fusca capotou.

Capotado, o fusca foi vagarosamente tragado pelo lamaçal.

A platéia não estava entendendo nada mas as crianças riam à beça.

26
O bibliotecário só começou mesmo a se agitar na cama no momento em que o sonho ganhou características menos infantis, mais sombrias e grotescas.

Isso se deu logo em seguida.

Outro palhaço, saindo do meio do grupo de palhaços que assistia ao naufrágio do fusca, se aproximou do bibliotecário e o agarrou pelo braço, aos gritos:

Você precisa me ajudar a sair daqui.

Quê?

Escuta bem o que estou dizendo. Você precisa me ajudar a sair daqui.

Do que é que você está falando?

Não agüento mais este lugar. Estou enlouquecendo.

Mas quem é você afinal? Me deixa em paz.

O bibliotecário repetiu, mas quem é você afinal, apenas para ganhar um pouco mais de tempo. É, um pouco mais de tempo, pois ele sabia muito bem quem o outro era.

Conhecia-o superficialmente, de outros sonhos. Sempre a mesma figura esquálida, fora de foco, pavorosa.

Esse sujeito agora fantasiado de palhaço, que também já havia sido carteiro, balconista, taxista, banqueiro, cirurgião, tudo isso e muito mais em pesadelos anteriores, não passava de uma figura repetida, repetitiva e paranóica, que insistia em atuar noite após noite como o principal personagem de um sonho recorrente, sempre o mesmo sonho, noite após noite, sempre, o horror, o horror.

Para ganhar um pouco mais de tempo o bibliotecário insistiu, mas quem é você afinal? Vamos parar com esta palhaçada, ok?

O outro esbugalhou os olhos e gritou, palhaçada? Palhaçada?! Vem justamente você me falar em palhaçada? Não suporto mais ver a tua cara de suíno empedernido, não suporto mais sentir o teu mau cheiro toda noite, toda noite, toda noite. Eu quero acordar!

Cala a boca, porra! Você não fica quieto nunca?

O que foi que me aconteceu?

Mas quem… Do que é que você está falando agora?

Há bem pouco tempo o que foi que me aconteceu? Antes as coisas eram coisas. As pedras eram pedras, as nuvens eram nuvens. Não só isso, antes as pessoas eram pessoas. Que foi que aconteceu depois disso afinal? Que houve com a porra das coisas?

Solta meu braço!

Compreende o que estou tentando dizer? Antes eu abria a porta e tudo estava lá, prédios, viadutos, bancas de jornal. Agora, apesar de ainda estarem lá, apesar de aparentemente ainda estarem lá, os prédios não são mais os mesmos, nem os viadutos nem as bancas, nada se parece mais com o que era antes.

Me solta, desgraçado!

Não suporto mais isto aqui. Quero que você desapareça, quero que tudo isto desapareça. Eu quero acordar!

Pelo amor de Deus! Você não vê que quem está dormindo sou eu?

Isso é o que você pensa.

Cala a boca.

Você pensa que está dormindo, que tudo aqui não passa de um desvario, que eu mesmo não passo de uma abstração.

Me solta, desgraçado.

Não se assuste quando descobrir que o bonequinho do País das Maravilhas neste caso é você, não eu.

Me solta!

Não sou eu, não. É você, viu? É você! Não sou eu, não.

Me sol…

Entre a essência e a aparência das coisas há mais confusão do que você imagina, seu bibliotecariozinho de merda.

Me…

O bibliotecário acordou banhado em suor.

Apesar da expressão de susto do companheiro, Estela continuava dormindo profundamente.

Estela dormia.

Como isso era possível nem mesmo Deus sabia dizer.

Dormia profundamente, Estela, alheia aos gemidos do marido, ambas as pernas fora do lençol, um braço no peito e o outro sob o travesseiro, a boca um pouco aberta, o corpo todo de vez em quando trepidando com fúria, estremecendo a cama, ressonando.

Parecia exausta.

O bibliotecário levantou da cama sem fazer barulho. Um grito sufocado forçava a passagem dentro do seu peito, pressionando todos os músculos.

Levantou e foi até a janela tentar respirar um pouco melhor.

Sentia-se sufocado.

O que era isso do outro lado da rua, brilhando sem parar, incrustado na parede fuliginosa e borrada do prédio em frente?

Tateou em cima do criado-mudo à procura dos óculos. Não estavam aí.

Merda.

Moveu-se devagar pelo quarto escuro, com os braços meio estendidos, procurando com os dedos o espaldar da cadeira onde havia deixado a roupa. Os óculos estavam em cima da calça, soltos, sonolentos.

A mesma sensação de falta de ar que sentira havia pouco voltava agora sob a forma de um zumbido baixo atrás das orelhas. Um zunzunzum familiar, como se um pensamento reprimido quisesse se fazer ouvir mesmo que à força.

Que diabos, gemeu baixinho apalpando o abdome, depois os braços.

Estela virou na cama, resmungando qualquer coisa ininteligível. Resmungou, procurou a ponta do lençol e tornou a se cobrir, virando de lado.

O brilho metálico e sideral do outro lado da rua escapava da janela aberta do escritório.

Cacete.

Finalmente sóbrio, pareceu ao bibliotecário que sua querida rotina estava ameaçada. Diferente da impressão de horas atrás, agora parecia a ele de grande importância a luz acesa no escritório ainda aberto. Precisava ir até lá apagá-la e fechar tudo.

Precisava.

Ah, precisava sim.

O gosto horrível de pântano começou a voltar à sua boca. Queria cuspir mas não havia nada para ser cuspido. Apenas essa textura áspera, arenosa, desagradável. Uma mistura de sangue e suor, céu e inferno.

Então o tal pensamento irrompeu dilatando as pupilas e os vasos sangüíneos. Irrompeu cheio de si e de calor. Irrompeu na forma de um arroto rápido, fulminante, seguido de uma náusea insuportável.

O bibliotecário correu para o banheiro. Precisava rever urgentemente seu velho companheiro de aventuras, o valoroso vaso.

Vomitou ajoelhado, como costumam vomitar todas as pessoas de fé.

Sentia-se como se estivessem detonando microbombas dentro do seu estômago. Sentia-se como se estivesse sendo dilacerado de dentro para fora.

Na hora agá amarelou. Não teve coragem de admirar os nacos do frango que Estela havia preparado com tanto carinho na tarde anterior, nacos que agora flutuavam alegremente na água parada.

Não.

Seria o mesmo que olhar um feto abortado, pensou.

Durante todo o tempo em que permaneceu nessa posição, com dores horríveis principalmente no pescoço e nos braços, só conseguiu admirar uma pequena rachadura na cerâmica, localizada um pouco acima do nível da água.

Por alguma razão desconhecida ele não tirou os olhos dela.

Havia percebido a sua existência muito tempo antes disso, quando da mudança para esse prédio.

O alvo de seu interesse não era nada mais do que um trincado, um ziguezague finíssimo na cerâmica azul.

Por que não conseguia despregar os olhos dele?

Por um minuto essa pareceu ao bibliotecário a questão mais importante do mundo, a própria razão da sua existência. Quem sabe, da existência até mesmo de toda a humanidade.

Por quê?

Tróia havia sido saqueada e Júlio César havia cruzado o Rubicão e os navegantes europeus haviam cruzado o Atlântico e Michelangelo havia pintado o teto da Capela Sistina, tudo isso apenas para que fosse preparado o caminho para a pergunta suprema, apenas para que fosse formulada a mais crucial das questões:

Qual o porquê desse trincado?

Questão intrincada, sem resposta.

Não havia como o bibliotecário saber.

Desanimado, ele pressionou o botão da descarga. A questão primordial desapareceu engasgada, mergulhada num rodamoinho fétido.

Novamente na cama, ainda de óculos, vendo o teto girar como as constelações lá fora, Frederico já não se lembrava mais da tal pergunta.

De fato, agora nada podia ser mais importante do que o teto e seu movimento suave, infinito.

Mas o sufoco não terminou aí.

Quando o bibliotecário, na manhã seguinte — a primeira de uma semana que estava apenas começando —, puxou a ponta do cordão da calça de pijama e o laço, em vez de se desfazer delicadamente como de costume, converteu-se, para a surpresa geral, num desnorteante nó, o grilo falante dentro da sua cabeça sussurrou, ai, ai, ai, essa vai ser uma semana de cão.

Merda.

Irritado, o bibliotecário tentou desfazer o nó com um forte puxão. O tranco, contudo, serviu apenas para arrebentar uma das extremidades do cordão e deixar a calça mais apertada ainda.

Merda.

Sentou na borda da cama, respirou fundo e tentou desfazer o nó com mais cuidado. Seus dedos, todavia, eram pequenos e grossos, o que dificultava muito o trabalho.

Merda.

Depois de algum tempo Frederico desistiu de tentar a diplomacia. Agora era a guerra.

Agarrou firmemente o cordão com ambas as mãos e deu um novo tranco, arrebentando-o.

As duas pontas desapareceram dentro da costura e a calça, agora completamente frouxa na cintura, escorregou até o chão.

Merda.

O que foi?

Voltando do banheiro Estela entrou no quarto no momento exato em que a calça tocava o assoalho.

O bibliotecário chutou a calça e finalmente entrou no banheiro, indiferente à própria nudez, praguejando muito, balançando as nádegas e os testículos como um símio indignado.

Essa não ia ser uma boa semana.

27
Dois meses depois o visitante teve um estalo. Ao abrir os olhos logo de manhã: clique!

Impulsionado por uma lembrança repentina ele decidiu procurar primeiro no meio dos livros que estavam embaixo da cama.

Não. O que procurava não estava aí.

Tirou todos os livros de baixo do estrado, um por um, fileira após fileira, removendo quando necessário a poeira das capas menos conservadas, checando o nome de cada um no frontispício (quando não havia capa nem lombada) e no rodapé das primeiras páginas (quando não havia capa nem lombada nem frontispício).

Olhou livro por livro e nada. O que procurava não estava mesmo aí.

Despiu-se demoradamente. Enquanto tirava o pijama ele se perguntava onde poderia estar…

Pegou a camisa lilás de algodão que estava esticada no encosto de uma cadeira, vestiu, pegou a cueca branca também de algodão, vestiu.

Aparou a barba, mirando-se sem expressão no espelho do banheiro.

Refletido no espelho — um luxo, pois era com certeza o único num raio de muitos quarteirões —, enquanto cortava com muito esmero e paciência a pontinha rubra dos fios menos comportados e rebeldes, podia observar um bom pedaço da cidade iluminada pelo sol das oito.

Essa visão deixou o visitante bastante desanimado. Principalmente por reafirmar a sua posição privilegiada porém incômoda: estava no vigésimo quinto andar mas o elevador, em reparo desde a última sexta-feira, continuava estacionado no térreo.

Ou seja, vinte e cinco perversos lances de escada o aguardavam. Antes que conseguisse chegar à rua teria que enfrentar essa prova de resistência.

Terminou de aparar a barba. Em seguida, meias, calça, cinto, sapatos, gravata, paletó. Vestiu, colocou, calçou, sempre desatento a tudo o que não se referisse diretamente ao que procurava.

Apertou o nó da gravata.

Caramba, onde foi que eu os vi?

Poderiam estar em qualquer lugar. Poderiam estar até mesmo num dos vinte e cinco vãos existentes abaixo de seus pés. Poderiam estar sob cada um dos lances da escada, em cada intervalo transformado provisoriamente em depósito do excedente das bibliotecas.

Terminado o nó da gravada, olhou em volta.

O quarto não era muito grande, mas a pessoa que o havia mobiliado, talvez Estela, talvez outra funcionária qualquer, conseguira acomodar nele, entre dois abajures e um mancebo, uma série enorme de pequenos móveis e objetos. Uma série tão grande que o visitante, de qualquer maneira, teve preguiça de enumerar.

Olhou em volta e acabou encontrando por acaso, prensado entre o armário do banheiro e a porta completamente imobilizada por uma coleção de enciclopédias que durante décadas a impedira de abrir ou fechar, um envelope contendo alguns documentos importantes dados por irremediavelmente perdidos.

Encontrou-o, mas esse achado o deixou mais aborrecido ainda. Os documentos estavam com todos os prazos vencidos havia semanas e não possuíam mais nenhum valor.

Era só o que me faltava, o visitante resmungou saindo do banheiro.

Voltou a procurar o que estivera procurando antes de encontrar o envelope.

Procurou, sem abrir as portas de vidro trabalhado, nas duas estantes encostadas uma de cada lado da janela. Procurou também nas prateleiras sobre os dois criados-mudos e nas gavetas da escrivaninha.

Nada.

Tinha certeza de que estavam nas proximidades, em algum lugar dentro do seu costumeiro campo de ação, pois havia se deparado involuntariamente com eles várias vezes. Mas onde?

Tornou a olhar no amontoado de livros jogados no chão do quarto. Percebeu nele qualquer coisa de familiar. Esse ajuntamento aleatório e colorido se parecia muito com o bonito acolchoado de retalhos que sua avó havia costurado décadas atrás. O acolchoado que ganhara de presente de aniversário.

Desgostoso, o visitante decidiu sair sem mexer novamente nos livros. Mais tarde uma das faxineiras trataria de colocar tudo de volta no seu devido lugar.

Desceu os vinte e cinco andares passando em retrospecto os últimos dias de trabalho, analisando cada interstício entre um gesto e outro, amaldiçoando a obsessão que sem mais nem menos tomara conta de si.

Na rua ele também lembrou que na semana passada não dera o costumeiro telefonema para casa.

Devo estar perdendo a razão, gemeu baixinho.

Uma kombi da prefeitura, com um novo carregamento de dicionários, estava parada na entrada da rua, impedindo a passagem dos pedestres.

Na verdade ela não estava propriamente parada. Estava, isso sim, entalada na estreita boca da rua. O pequeno espaço entre a parede da esquerda e a da direita não havia sido suficiente para a passagem do veículo.

O motorista e seu auxiliar, ambos vestindo um macacão azul com um distintivo amarelo bordado numa das mangas, não sabiam o que dizer ou fazer.

Apenas balbuciavam coisas sem o menor sentido, repetidas num tom choroso.

Eu disse que não dava.

Não enche o saco.

Eu disse.

Então, sabe-tudo? Por que você não se ofereceu pra dirigir? Hein?! Deixasse de conversa fiada e pegasse no volante.

Eu disse pra gente pegar o carrinho de mão, não disse? Você quis pegar a perua.

Você só sabe contar papo. Não enche o saco, tá bem?

Eu não vou pagar esta multa. Não mesmo.

Cala a boca e começa a descarregar a carga. Temos que aliviar o peso desta joça.

Eu não vou pagar esta multa.

Estava aí, a kombi, havia mais de meia hora, fato que causou a irritação de muita gente, principalmente dos operários do edifício que devagar ia sendo construído no terreno próximo ao refeitório, exatamente, no mesmo terreno onde antes havia sido uma praça.

Durante todo esse tempo nenhum guarda de trânsito apareceu para registrar a ocorrência.

Olhando para o céu o visitante se deu conta de que era uma manhã perfeita de segunda-feira, uma manhã esplêndida, porque era a primeira manhã do ponto mais alto da primavera.

Sim, que bela manhã, ele pensou.

O céu estava muito limpo, muito azul, muito fresco.

Podia-se respirar afinal.

Mesmo a poeira levantada pelos bate-estacas da construção não chegava a sair do perímetro definido pelos tapumes. Uma força infausta parecia forçá-la para baixo, para o solo. Ouvia-se o barulho das escavadeiras, das betoneiras, do maquinário todo, porém nem um grão de areia conseguia se erguer acima da vedação de tábuas.

Ah, quase dá pra respirar o ar puro das montanhas, pensou o visitante enchendo os pulmões.

Aaaaaah.

Encheu os pulmões e o arrepio que percorreu sua pele, um arrepio desconhecido, prazeroso, casual, fez com que procurasse inconscientemente nos bolsos da calça o pequeno estojo de cigarros holandeses.

A primeira tragada foi fabulosa, incandescente, única. O céu, depois disso, ficou mais limpo e azul do que nunca.

Huuum, gemeu tragando novamente.

Esse estava prometendo ser o dia mais perfeito do ano. Desde que, é claro, vencesse os obstáculos da sua memória e finalmente encontrasse o que tanto procurava.

Próximos capítulos

Sobre a cidade, o céu noturno emite sinais que só os eleitos conseguem decifrar. Algo muito importante está para acontecer. Algo assustador, terrível, devastador. Sem perceber isso, o bibliotecário volta a se preocupar apenas com a rotina profissional. Mas o técnico de estoques, Pedro Penna, começa a vasculhar, por conta própria, estantes, salas e bibliotecas, seguindo a única pista a seu ver consistente: a evidência que possivelmente o levará à solução do mistério dos livros ilegais.

Nelson de Oliveira

É ficcionista e crítico literário. É autor de Poeira: demônios e maldições e Ódio sustenido, entre outros.

Rascunho