Curitiba
Dispensa essas velhas estampas
recortadas de uma revista:
Petrópolis, Paris. Os pampas,
Paulista.
Quero antes a simetria
dos teus quarteirões sem barroco.
Poucas curvas. Teu mais-seria,
teu pouco
sobrando nas pedras da XV,
no muito do céu de teus parques.
Não falta mar. Faltara fuligem
e charques?
A vida é um ajardinado
sobre os despojos de um rio:
perfeito, ó bela! Só cuidado
com o vazio
que os arquitetos cultivam
em tua possibilidade.
Atenta pro Olho no ar,
cidade.
Já no caminho de Morretes
brincavas de abismo também.
(Domada Iguaçu nos dormentes
do trem.)
A vida, o ajardinado,
eles pensam que o sonhamos.
Mais um café lá no Mercado;
já vamos
ser de novo o que te preliba
na viagem a planejar:
Curitiba! E Curitiba
ao voltar —
saudade menina que lembra
um velho exercício de crase:
venho e vou. Jamais se desmembra
teu quase.
…
O pássaro de louça
Veio cantar nas minhas coisas
Um belo pássaro de louça
Devolvido com as roupas.
Seu canto de muda alegria
Não gorjeia rancores;
Sua crista eriçada
Parece mais à vontade;
Seu bico de quase riso
Sabe que toda injúria
É ave de voo baixo.
E ele, que foi um
Presente de aniversário,
Cumpre o fado de oferta
Com o mesmo peito enfunado.
Vou pô-lo na cozinha
Com louças menos aéreas
Para esquecer o aparador
Onde nunca foi pousado.
E para que veja o fogo
Do fogão e até o frio
Da geladeira aberta:
Ambos de aceita oferta
Como à louça fez o barro.
…
Oráculo
para Claudio Sousa Pereira
No sonho teima
se o dia avança:
dizem toleima,
dize esperança.
Por abandono
tal caridade
tomam… — no sonho
teima até tarde!
Manhã de ontem
virá — sê forte:
pois que já é
(mesmo não contem);
dirão — “Foi sorte!” —
mas, não: foi fé.