Poemas de Willian Blake

Leia os poemas traduzidos "Neve nova", "O limpador de chaminés", "O cordeiro" e "O tigre"
William Blake
01/07/2005

Soft snow

I walked abroad in a snowy day:
I ask’d the soft Snow with me to play:
She play’d and she melted in all her prime;
And the Winter call’d it a dreadfull crime.

Neve nova

Eu saí a indagar, num nevoso dia,
Se comigo a neve nova brincaria:
Brincamos, e ela derreteu a primor;
O inverno falou em crime — e horror.

The chimney-sweeper

A little black thing among the snow,
Crying “weep! weep!” in notes of woe!
“Where are thy father and mother, say?” —
“They are both gone up to the Church to pray.

“Because I was happy upon the heath,
And smil’d among the winter’s snow,
They clothèd me in the clothes of death,
And taught me to sing the notes of woe.

“And because I am happy and dance and sing,
They think they have done me no injury,
And are gone to praise God and His Priest and King,
Who make up a Heaven of our misery.”

O limpador de chaminés

Um pontinho preto no meio da neve
Grita “Dor! Dor! Limpador!”, não soa leve.
“Onde estão os teus pais?”, alguém troveja.
“Ambos foram rezar, estão na Igreja!

“Porque eu era alegre sem ter sorte
E sorria em meio a flocos de neve,
Vestiram-me com as vestes da morte
E me ensinaram um canto nada leve.

E porque um dia eu cantei e dancei,
Pensam que eu vivo bem nessa féria.
Foram louvar Deus, o Padre e o Rei,
Que constroem um Céu com nossa miséria.”

The lamb

Little Lamb, who made thee?
Dost thou know who made thee?
Gave thee life, and bid thee feed,
By the stream and o’er the mead;
Gave thee clothing of delight,
Softest clothing, woolly, bright;
Gave thee such a tender voice,
Making all the vales rejoice?
Little Lamb, who made thee?
Dost thou know who made thee?

Little Lamb, I’ll tell thee,
Little Lamb, I’ll tell thee:
He is callèd by thy name,
For He calls Himself a Lamb.
He is meek, and He is mild;
He became a little child.
I a child, and thou a lamb,
We are callèd by His name.
Little Lamb, God bless thee!
Little Lamb, God bless thee!

O cordeiro

Cordeirinho, quem te fez?
Sabes quem é que te fez?
Deu-te vida, deu-te pasto,
Um riacho no campo vasto;
Deu-te roupa que delicia,
Lã clara, fina e macia;
Deu-te também terna voz
Para alegrar os vales sós?
Cordeirinho, quem te fez?
Sabes quem é que te fez?

Cordeirinho, eu o direi,
Cordeirinho, eu o direi:
Teu nome tomou inteiro,
Também se chama Cordeiro;
Humildade meiga e mansa,
Que se tornou uma criança.
Eu, menino, tu, cordeiro,
Temos Dele o nome inteiro.
Cordeirinho, que Deus rei
Te abençoe, como o farei!

The tyger

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wing dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder, and what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? and what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water’d heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful simmetry?

O tigre

Tigre! Tigre, ardendo grave
Pelas florestas do entrave,
Que mão ou olho imortal
Modulou-te simetria tal?

Em abismos ou céus quais
Forjou teus olhos fatais?
A qual asa ousou imitar?
Que mão pôde o fogo apanhar?

Diga-me, qual braço, e qual arte,
Tal cárdio-tendão veio trançar-te?
Quando ele começou a bater,
Que terrível mão, e que ser?

Que martelo? Qual corrente?
Que fornalha forjou-te a mente?
Que bigorna e que tenaz
Tuas unhas tornou capaz?

Quando as estrelas com suas lanças
Cobriram de lágrimas as crianças,
Sorriu ao ver o seu trabalho?
Quem fez o Cordeiro, deu-te talho?

Tigre! Tigre, ardendo grave
Pelas florestas do entrave,
Que mão ou olho imortal
Ousou dar-te simetria tal?

William Blake (1757-1827)
Pintor, ilustrador e poeta inglês. Autor de obras como Canções da inocência, Canções da experiência e O matrimônio entre o céu e o inferno. São célebres suas ilustrações para a Bíblia, a Divina comédia, e o Paraíso perdido.
Sidnei Schneider

É poeta e tradutor. Autor de Plano de navegação (poesia) e Versos singelos José Martí (tradução).

Rascunho