Poemas de Walmor Marcelino

Leia os poemas "Sons", "Corto e pronto", "Calor", e "Invocações"
Walmor Marcellino
01/11/2003

Sons

Soou a duodécima-hora, inexcedível
daqui adiante, o improvável
o iniludível. Sem elisão.
Não comunicativa
sequer audível;
apenas a rouquidão
polida no esmeril de
ásperos ponteiros.
Aconteceu comigo:
fui armando escondido
uma retórica desprezível.

Corto e pronto

Vivo e vejo, vejovivo
correr um fio de vida
preso de minha infeja.
Nem sei do que
porventura pedir reserva.
Não é hora de confissões
porém não custa
encerrar nossa conta.
Se não me crêem vivo
não atino uma saída.

Calor

Não te penso pensando-me
no fulgir do olhar, sôfrego;
tentei pôr-me em cautelas:
em sonhos puxavas-me o corpo,
eu te dava a mão.
Por cima candelabro
embaixo sete velas:
tu lânguida, eu glabro,
segui afrouxando a irrisão.
Agora confesso-me o abando-no,
não sendo eu, sequer em sono
o diligente discípulo
a tirar essa lâmpada do vestíbulo
aos tenteios tentei passar-me
por bem, num projeto assim.

Invocações

Já que os céus são infinitos
e a razão aleatória um estigma
o que eleva os desejos mínimos,
o que dá amostra uma sina?
Increpo aos deuses, aos céus
e à cultura que burilou teus
hábitos perdidos sob os meus;
e depois, esses velados véus?

* os poemas aqui publicados pertencem ao livro Todas as palavras, Editora Quem de Direito.

Walmor Marcellino
Rascunho