A vida é cópia da arte
Areia
Pedra
Ancinho
Jardins de Kioto
Alucinado pelo destemor
De morrer antes
De ver diagramado este poema
Ou eu trago Horácio pra cá
Pra Macaé-de-Cima
Ou é imperativo traí-lo
E ao preceito latino de coisa alguma admirar
Sapo
Vaga-lume
Urutau
Estrela
Nestes ermos cravar as tendas de Omar
Ler poesia como se mirasse uma flor de lótus
Em botão
Entreabrindo-se
Aberta
Anacreonte
Fragmentos de Safo
Hinos de Hörderlin
Odes de Reis
El jardín de senderos que se bifurcan
Jardim de Epicuro
Éden
Agulhas imantadas & frutas frescas para a vida diária
…
Procissão do encontro
CUJOS PRINCIPAIS ANDORES SÃO MANUEL BERNARDES E JULES LAFORGUE
Jesus Cristo eu estou aqui, Jesus Cristo eu estou aqui
– soluçou azedo de cerveja
Enquanto a música barata chorava nos seus ouvidos.
Je
sus
Cristo
Je
sus
Cristo
eu estou
aqui.
Aqui
( cheiro de mijo, chope, e rodelas de limão do mictório acre)
Aqui
( espremido na porta do bazar no meio da fornalha do Saara )
Aqui
foram os sobressaltos
e logo as suspeitas,
e logo as ânsias,
e logo as desesperações.
Aqui
desenchido, enchido, desenchido e enchido o saco cético.
Aqui
buraco.
– Pobre ladainha melancólica.
Vestido de papai-noel,
Neves de algodão
sobre as chamas do rosto
ocre de suor.
Vestido de papai-noel
Parece pedra absorvendo calor
Através dos pompons
e do cetim vermelho-brasa.
…
14 de julho
Por entre talas de criciúmas
Vulto de índio cotoxó assobia “La Marseilhaise”.
Formez vos bataillons!
Sua índia cotoxó cisma Jean Jacques Rousseau
Arreganha as pernas e repele bastilhas e tiranias.
O dia de glória arrivou !
…
Feitio de oração
ó garrafada das ervas maceradas do breu das brenhas
se adonai de mim e do meu peito lacerado.
ó senhora dos remédios
ó doce dona
ó chá
ó unguento
ó destilado
ó camomila
ó belladonna
ó phármakon
respingai grossas gotas de vossos venenos
ó doce dona
ó camomila
ó belladonna
serenai minhas irremediáveis pupilas dilatadas
ó senhora dos sem remédios
domai as minhas brutas ânsias acrobáticas
que suspensas piruetam pânicas nas janelas do caos
se desprendem dos trapézios
e, tontas, buscam o abraço fraterno e solidário dos espaços vácuos.
ó garrafada das maceradas ervas do breu das brenhas
adonai-vos do peito dilacerado e do lenho oco que ocupo.
ó leite de magnésia
ó óleo de rícino
ó elixir
ó cicuta
…
Rizomáticas
( Tira a casquinha do amendoim / Torradinho / Tritura com os dentes).
A mãe da noite faz medo
Apois que come a memória
A mãe da noite governa e faz medo.
Umas e outras marias metem o pé no breu
E viram buracos negros na paisagem
Muda
Já esta é maria-centopéia que sabe o gosto de vagabundar
Uma Sultana Impaciente sem-vergonha
Cujo nome deriva de uma escrava romana
De cinema americano
Convertida nos primórdios da cristandade :
Fabíola de Vista Alegre
– o local se embaralha na lembrança
com o designado Alto da Bela Vista –
Ou ela era
Sabrina
Aline
Zoraide que declamava perante o tribunal do esquecimento
uma dúzia
e meia
de poemas
Danielle – a cachorra gostosa do inferninho Mikonos –
Vivianne
Rosália do Rio Comprido
Ou a Karla com K ?
O que elas estarão aprontando neste exato momento ?
Cada uma vai vai pra cada lado.
Chuva ácida cai cai e cava
Cava.
O sentir e o pensar espatifados.
Que ele perdeu a memória dos nomes
Cada novo monumento soma ruínas
e gozos.
Pra todo lado um talo brota.
Aquela de Bangu com uma pinta saliente por entre as sobrancelhas.
( Tira a casquinha do amendoim / Torradinho / Tritura com os dentes ) .