Ainda se morre por amor
sim, eu sou os versos
Victor Heringer
às vezes a dor tem um nome
uma marca no calendário
às vezes, um número no telefone
outras vezes, imaginário
a dor leva o tempo ao contrário
o tempo da lágrima, o da fome
o tempo que morre e descome
o amor que morre à míngua, lunário
o rosto da morte, seu desnome
fuga e desamor, seu inventário
…..
Santa Teresa
não quero ir pro céu
não quero ir pro inferno
quero viver e morrer
em santa teresa
no bar da esquina
ladeira abaixo
ladeira acima
bebendo poesia
comendo amor
respirando alegria
até que um dia
santa teresa me diga
se a dor que me seguia
tivesse um nome
qual seria…
…..
Mil sóis não queimam uma letra
a escrita não vê a si mesma
não é transparente como a voz
mas o fogo frio de um texto
queima mais que mil sóis
tudo o que é escrito deseja
a grafia, um kama-sutra
meu, teu ou de quem seja
a escrita é uma puta
condenados estamos a ler
não nos afastamos do medo
do falar, do erro, do enredo
do indiviso mar do dizer
se a fala é o magma de ruído
busca a fervura do ouvido
e antes de ser língua ou silêncio
a escrita é fenda, lava e cio
…..
Meu acento
ladra à vida
o cão da minha sina
faminto de destino
fera vadia
franzino
querendo outro mar
o canto palestino
de quem me sabe olhar
por brio que obstino
meu hino
meu acento
nordestino