Trava
O poeta e a trava da escrita.
Pássaro sonoro ou coragem
da palavra, sem malabarismo
queria algo como flamboyant
ou ipê: há nomes tão deliciosos
que dão vontade de comer.
Revirou conceitos e espantos,
nenhuma crônica saciou a parte
incompleta da sua garganta.
Ele foi cuidar do jardim como
quem medita sobre a serenidade
de uma chuva temporã.
O chão semelhante a um sânscrito
numa bata indiana.
Pedras florais em cacos de vitral.
Do pólen ao lume, a eletricidade
também tem sua sanha
uma imagem soluçou tristemente
nas gramíneas daquela manhã
[um pássaro morto
entre a areia
e as folhas —
com um pouco
mais de vento
não verei o seu rosto].
Símbolo
Todo começo é metade
e toda metade
tem o sabor
do que me falta.
Aprecio o que é visto
e brindo
ao que se espera —
abrir a janela
mesmo que por ela entrem
todas as feras.
Nas minhas circunstâncias
há sempre
um crisântemo estilhaçado
e o beco de um poema
me regenera —
só me sei em errância
no louco boêmio
ao místico
em busca do sagrado
que não se enquadra.
Nesta selva sideral
sou apenas
um homem sangrando.