Poemas de Thássio Ferreira

Leia três poemas "sem titulo"
Thássio Ferreira, autor de “agora (depois)”
01/12/2021

o corpo da casa crescido
costelas a mais
de pau seiva casca
mais folheando mãos espalmadas
coroadas de cajás
acerolas bananas jacas

enquanto

cascalhudas águas corredeiras
farfalham sua cura
sonoríssima
ao pé do barranco
a sul dos abismos

cajá-manga, limão galego, jambo
a casa, as galinhas, a orla do
barranco
donde as cãs, gertrudes e stein
engraçavam-se aos passantes
quand’época, tangerina, e
jabuticaba quand’em vez

cuidar da terra como
lavar a louça
— ritos de comer

em guarda junto ao garfo
o pai empunha notícias do mundo
tudo é mundo muito
embora nem sempre
pareça, pai

isso foi antes
antes da internet
quand’aqui era pouso
ponto de fuga

já era luta também
porém dentro

depois (agora quando)
expliciderramou-se
primavera (pai)
sobre os cajás, limões e
pés de jambo

por mais que pergunte
às nuvens ao silêncio
a meu esperma derramado
aos espinhos que doem
dentro
(de onde não logro sair)

ao que parece não tem nome
este vento daqui

mas suas mãos sem fome
desentortam espelhos
põem gosto de carne
(fresca)
na língua dos cães

justificam o tempo
sem que se entenda
e acordadas, acordadíssimas
vão dormir

Thássio Ferreira

Nasceu em São Gonçalo (RJ), em 1982. É poeta e ficcionista, autor de (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016), Itinerários (Ed. UFPR, 2018) e agora (depois) (Autografia, 2019), todos de poesia. Escreve quinzenalmente na Revista Vício Velho. O conto Mundinho integra o livro inédito Cartografias, vencedor do Prêmio Cidade de Manaus 2020 e finalista do Prêmio Sesc 2017. Seu próximo livro, Nunca Estivemos no Kansas (contos), deve ser publicado em 2021.

Rascunho