Repouso
Conheces a trilha do inferno?
leva-me
Quero o vermelho
vivo
escarlate
aquele das febres
Revela-me
o que me foi negado
a fonte ardente
incendiária
o fervor em alento
onde o sangrar não dói
antes inaugura o templo
de dor e celebração
Deixa repousar ali
meu coração vassalo
o tempo de uma noite quente
e sem Deus
…
Ausência
O despertar é lento
sou presa tardia
das tramas da noite
de afagos em paina e linho
Ainda é ontem
na letargia dos músculos
nos olhos feridos de luz
no real que é puro desamparo
O mundo, o deserto de um leito
repousa ao sol
revigorado em ócio
surdo ao rugir da vida lá fora
Feixes de luz
rompem a janela
suspendem a manhã
em cristais de pó
Minúsculos arco-íris dissolvem-se
ao balançar suave das cortinas
trazem no ar orvalhos de banho
foi quase agora
O armário aberto
o cabide dependurado
a toalha molhada
o copo vazio
e um rastro de aromas
Tanta presença
tanta ausência
…
Retorno
O tempo passa
eu não
sequer fico
volto
Para ver janelas
iluminando a vida
que um dia foi minha
vozes, talheres, badaladas da meia hora
Do lado de fora
o coração pesado espreita
ladra com os cães na agonia da noite