fui só errar em desterros
só ao mar me soçobrar
de rastro entre espinhos
as partes podres os sobros
hordas de amantes aos bagaços
dizimei-me nos fogos de acreditar
seriam exatas as respostas
nas tormentas inúteis as barcaças
também não retirei as grades
não limiei raios nos escuros
nem flexíveis fiz as ferragens
ossos esses remos sem braços
não deixei o centro o oco todo
não parti para apalpar as luas
e acreditar nos sonhos sem desgraças
atrelar outras mulas e muares
à caravana dos convidados
aos milagres das certas graças
desembarquei-me das incertezas?
não fui a varrida a parte irada?
mas não ser no cerne a certa traça
mas não ser a mão que traça a retirada
…
guardar o teu dorso a tua dor
o teu ente quente de solidão
chegará a resina da interdição
armará fuselagens a insaciedade
e terei de pedir teus braços
de valer-me da parte de ti
que às vezes soçobra e assassina
achar saídas e entradas
em mapas que não sabíamos
ainda que seja a ruptura
a secura a parte imprestável
serás a sempre-viva a minha sina
e ainda que seja a tórrida seca
continuarás sobre mim
ainda que a braça de terreno
sem os preparativos de uma mina
não haverá sempre
as freguesias de um chão
sempre beijos sempre lâmpadas
a flor da perpétua solidão
venha duvidar comigo
quando eu for o teu abismo
já não serei o que se afunda
e sem saibro se esvazia
…
a estrada não diz
eu não te dou valas
eu não te dou fardos
eu te levarei às portas
das definitivas leis
eu te darei os dias
que não anoitecem as albas
a estrada não diz não levo
e aí vão os loucos
os aleijões os fardos
a muchacha arde pela estrada
há sol há sonhos a insaciedade
ela vai comprar um vestido
e irá solta no vento sem anáguas
e irá sem as despedidas e as alvas
e a estrada te convida
vai com a muchacha
vai com os loucos os aleijões os fardos
riem na estrada
e os dentes são alvos
e os olhos carregam
de coragem as cargas
e já não se acaba
a estrada em que passam
a muchacha os loucos
os aleijões os fardos
o burro lerdo lerdo
pesado de estacas