Ensina-me a alçar teus labirintos
que transcendem a flor de formicida;
ensina-me a nascer desses instintos
em que cantar transcende a própria vida.
Aceito tuas cartas e este recinto
onde fingimos não haver partida;
nesta sala de espelhos — se não minto —
entrar é o mesmo que não ter saída.
Ainda assim, é sublime. E há brio
na magrez do perdão que seca o lábio;
ainda que incertezas nos desmontem
as reciclagens desses alfarrábios
dos dias claros que se nos apontem
só o favor de não ter morrido ontem.
…
Procuro o crepúsculo sem fronteiras
na lupa do teu olho anfíbio. E resvalo
secreto em meus domínios.
Tenho só esta paz implacável,
onde dormem os leopardos (e
a urbe suja de lavagens).
Porém, espero esse pássaro
que amanhece o trigo. Espero
as sementes do teu sangue
desde as mitologias ressuscitadas.
O odor da terra crua; os barcos
que o mar não trouxe; a espada
sobre os tambores.
Ó fome que a boca esquece!
Trago-te essas tílias
em meu coração partido.
Eu que me hei redivivo;
E já morri tantas vezes…
…
Não conterei teu inverno
de sombra e fúria, em que
se ocultam meninos
carregando estrelas.
Crescem cidades em minha boca;
crescem gerânios sobre ruínas.
(Gosto de tua luz fugidia
de aranhas tecendo lendas; gosto
do que a solidão não ceifa).
Ó voz que respira
aos renegados e aos inocentes
cúmplices!
Sou este louco que vomita
flores, agarrado aos altares (agarrado a esses ramos
de anarquia e santidade).
Ainda ontem,
eu vi a nudez dos mortos vivos. Juro que vi
a sordidez vendendo a História.