Canção dos chopes de maio
a André Seffrin
Aqui, nos chopes de maio,
há uma sugestão de rosas
ao luar — e vasta ânsia
por mulheres suntuosas!
Aqui, em ouros e espumas,
me sonho alto, como alguém
bravo de vencer o mar
e de se chamar Ninguém.
Aqui, em goles preclaros,
bebo aos que não voltam mais
(como jamais haverão
de chegar a nenhum cais…).
E brindo aos claros amigos:
que seja o chope alegria
dia e noite; e, de maio a maio,
traga-lhes sempre a magia
— entre seus ouros e espumas —
de uma sugestão de rosas
ao luar — e vasta ânsia
por mulheres suntuosas!
…
Canção da moça e do sonho
a Neyla, in memoriam.
Com que sonhavam, no baile,
seus olhos semicerrados?
Há mais de quarenta anos
foi tirado este retrato:
a moça em vestido casto
e luz de sonho no olhar.
Com que essa moça sonhava
nesse intervalo de baile
e de maneira tão clara
que os olhos quase fechavam?
O que — ou a quem — contemplava
o sonho no seu olhar?
Há mais de quarenta anos,
como era serena a face
voltada para esse sonho
(moça e sonho: face a face).
Que sonho nela sonhava,
e que tanto a iluminava?
Não importa. Importa a face
doce; e, nos semicerrados
olhos, a canção do sonho.
Importa que houve um sonho
e o resplendor dessa face
— antes que o tempo passasse.