Tradução e seleção: Elton Uliana
Filling
Variations on emptiness
clutter my mind, a clot of thought, of bubble wrap,
frogspawn.
It seems the story of the man
whose jaw like a sphincter closed around a pool ball
is a lie but I want to believe it,
plenitude, true.
Preenchimento
Variações sobre o vazio
obstruem minha mente, coágulos de pensamento, de plástico bolha,
ovos de sapo.
É como a história do homem
cuja mandíbula como um esfíncter
fechado em torno de uma bola de bilhar
é uma mentira, mas eu quero acreditar,
plenitude, verdade.
…
Because the night
Because the night
surrounds us,
because the cold
has got up
through our feet,
because the street
curves gently,
because in the dark
neon and an odor
of felt, because
the cellar door,
because the night,
despite the heart’s
imperative, thins,
because the distant
sky, the stairwell,
because the boat,
the shifty moon,
because the pollen
is a dusty glove
on tarmac, because
the crab is inside
out, because want
warmth, comfort
despair, hessian
and a smell of clay
in rain, because,
despite it all,
a pillow, despite
the streetlights
sleep, despite
the jackhammers
dawn, because
the night, because
the hell of appetite,
because the damp
sand on an empty
beach, because
a quickening, as if
that were enough,
is enough, because,
despite it all,
a lumbering sound,
an odor of fat
on the foggy air,
smoke, the smell
of cows, of grass,
of prehistoric
ferns, because,
despite it all,
a moon like
a membrane, rubber
valve through which
the weather comes,
because the cold,
because the pull
of underearth,
because the endless
weather, because,
despite it all
despite it all
the weather.
Porque a noite
Porque a noite
nos rodeia,
porque o frio
sobe pelos nossos
pés, porque a rua
se curva suavemente,
porque no escuro
néon e um cheiro
de feltro, porque
a porta do porão,
porque a noite,
apesar do imperativo
do coração, se dilui,
porque o céu
distante, a escada,
porque o barco,
a lua mutante,
porque o pólen
é uma luva empoeirada
no asfalto, porque
o caranguejo está
do avesso, porque querer
calor, conforto
desânimo, sacos de estopa
e cheiro de barro
na chuva, porque,
apesar de tudo,
um travesseiro, apesar
das luzes da rua
o sono, apesar
das britadeiras
o amanhecer, porque
a noite, porque
o maldito do apetite,
porque a areia
úmida
na praia
vazia, porque
uma aceleração, como
se isto bastasse,
basta, porque,
apesar de tudo,
um som pesado,
um fedor de gordura
no ar nebuloso,
fumaça, cheiro
de vaca, de grama,
de samambaia
pré-histórica,
porque,
apesar de tudo,
a lua como
uma membrana, válvula
de borracha pela qual
o clima passa,
porque o frio,
porque o puxar
do subsolo,
porque o clima
infindável, porque,
apesar de tudo,
apesar de tudo
o clima
…
teeth shook and jasmine
my teeth shook in
my skull and jasmine
edged distantly
it was far and away
the best we’d known
it incomparable
afternoon within a
mediocre year you
suggested a picnic
I stripped off
there & then celadon
sky and similar sea
and so much summer
to get ourselves into
cars like vultures
circling like
no tomorrow as if
no not like that
tutors rather
the learning curve
or the way a runner
bean turns to grip
and matte paint on
sun-ladened walls
while everywhere
else is elsewhere
music of intimate
and anecdotal
life stuff she
screamed and
screamed and
no-one came the
day advanced
towards its horrible
end and anodyne
matter meant more
and more honey
suckle leaves
yellow and fall
and a tongue thick
from menthols dabs
at dry lips
dentes trêmulos e jasmim
meus dentes tremeram no
crânio e o jasmim
soprava à distância
de longe a melhor
de todas a mais
incomparável tarde
que tivemos neste
ano medíocre você
sugeriu um piquenique
eu tirei a roupa
ali mesmo céu cinza
esverdeado como o mar
e quanto verão
para desfrutarmos nós
de carro circulando
como abutres como
se não houvesse amanhã
como se não assim não
mentores seria melhor
curva de aprendizagem
ou o jeito da vagem
se enroscar e se prender
e uma tinta fosca nas
paredes ensolaradas
enquanto qualquer outro
lugar é um outro lugar
música intimista
e coisas circunstanciais
da vida ela
gritou e
gritou e
ninguém apareceu o
dia avançou em
direção ao seu terrível
fim e a matéria
anódina significava
cada vez mais folhas
de madressilva
amarelas e primavera
e a língua espessa
de mentolado roçando
os lábios secos