Tradução e seleção: André Caramuru Aubert
I give up
I hate the morning, I hate the night
Lie down and die, tell me some more
Don’t go to sleep, don’t leave me alone
The dreams: of changes, suffocation
Loss of speech, pursuit by monsters
Or of endless logical argument
Awake and watching you sleep is worse
The stores are closed, no buses run
Homicidal maniacs prowl the suburbs
And the happy phantom of my greatness
Wakes and grasps this pen, leaving
A heap of used-up words to read
After a morning dream of music.
Eu desisto
Odeio a manhã, odeio a noite
Deitar e morrer, me diga algo mais
Não vá dormir, não me deixe sozinho
Os sonhos: de mudanças, asfixia
Perda de voz, perseguido por monstros
Ou de discussões lógicas sem fim
Acordar e olhar você dormindo é pior
As lojas fechadas, nenhum ônibus circulando
Maníacos homicidas rondando os bairros
E o feliz fantasma de minha grandeza
Se ergue e segura essa caneta, deixando
Um punhado de palavras usadas a serem lidas
Depois de um sonho matinal com música.
…
Saturday
Tough
New
grass & weeds
Replace mud
beer cans & scraps of paper
Green thick & rough
Surrounded by cement
while from every window
of a tiny station wagon
A great solemn dog looks out
(not hanging head over,
tongue flapping)
Sitting upright, calm as bears, the
Ancient hippy long grey hair driving,
Young chick beside him, all excited
Yakking
Sábado
Novos
Fortes
capim & mato
No lugar que havia lama
latas de cerveja & pedaços de papel
Verde grosso & áspero
Cercado de cimento
enquanto de cada janela
de uma perua pequena
Um grande solene cão olha para fora
(sem apoiar a cabeça,
agitando a língua)
Sentado ereto, tranquilo como os ursos, o
O velho hippie de longos cabelos acinzentados dirigindo, e a
Garota jovem ao lado, toda excitada
Tagarelando
…
Homage to Robert Creeley
What I thought
was a fly on the window was
A knot on the branch outside
Near it a real fly sat
Quiet in the sun
Wind rocked all the branches the fly
sat still
Homenagem a Robert Creeley
O que eu pensei
ser uma mosca na janela era
Um nó no galho lá fora
Perto dele uma mosca de verdade sentou
Quieta sob o sol
O vento balançou os galhos a mosca
sentada imóvel
…
4:2:59 TAKE 1
What I need is lots of money
No
What I need is somebody to love with unparalleled energy and devotion for 24 hours & then goodbye
I can escape too easily from this time & this place
That isn’t the reason I’m here
What I need is where am I
Sometimes a bed of nails is really necessary to any man
Or a wall (Olson, in conversation, ‘That wall, it has to be there!’)
Where are my hands.
Where are my lungs.
All the lights are on in here I don’t see nothing.
I don’t admit that this is personality disintegration
My personality has a half-life of 10∞ years besides
I can put my toe in my mouth
If (CENSORED), then (CENSORED), something like
Plato his vision of the archetypal human being
Or the Gnostic Worm.
People see me; they like that…
I try to warn them that it’s really me
They don’t listen; afterwards they complain
About how I had no right to really be just that:
Invisible & in complete control f everything.
Cena I, 4: II: 58
O que eu preciso é montes de dinheiro
Não
O que eu preciso é de alguém para amar com incomparável energia e devoção por 24 horas & então dar adeus
Eu posso escapar muito facilmente desse tempo & desse lugar
Essa não é a razão porque estou aqui
O que eu preciso é onde estou
Às vezes uma cama de pregos é realmente necessária para um homem
Ou uma parede (Olson, numa conversa, “Esta parede, ela tem que estar lá!”)
Onde estão minhas mãos.
Onde estão meus pulmões.
Todas as luzes aqui acesas e eu não vejo nada.
Eu não admito que isso é uma personalidade se desfazendo
Minha personalidade tem uma meia-vida de 10∞ anos ademais
Consigo colocar o dedão do pé na minha boca
Se (CENSURADO), então (CENSURADO), algo como
Platão e sua visão do arquetípico ser humano
Ou a Larva Gnóstica.
As pessoas me veem; elas gostam daquilo…
Eu tento alertá-las de que não sou eu de fato
Elas não escutam; depois elas reclamam
Sobre como eu não tinha o direito de ser somente aquilo:
Invisível & no controle completo de tudo.
…
The chariot
For Jess Collins
I stand at the front of the chariot
The horses run insane, there are no reins
The curtains behind me don’t flutter or flap
I don’t look worried. Is the chariot headed
for the edge of a cliff?
Behind the curtains a party’s going on
laughing and talking and singing
I prefer to stand here, my arms folded
Ben Hur
Or one hand leaning lightly on the guard rail
Watch the horses galloping
Mother and father behind the curtains
they argue, naturally
“Who’s driving, anyway?”
Wind whistles through my spiky crown
Some hero, some king!
A carruagem
Para Jess Collins
Eu estou diante da carruagem
Os cavalos galopam loucamente, não há rédeas
As cortinas atrás de mim não farfalham nem se agitam
Eu não pareço assustado. Estará a carruagem indo
em direção à borda de um penhasco?
Atrás das cortinas uma festa está rolando
risadas e conversas e cantorias
Eu prefiro permanecer aqui, meus braços dobrados
Ben Hur
Ou uma mão levemente apoiada na cerca lateral
Olhar os cavalos galopando
Mãe e pai atrás das cortinas
eles discutem, naturalmente
“Quem está dirigindo, no fim das contas?”
O vento assobia através de minha coroa de espinhos
Algum herói, algum rei!
…
IV
Slightly indistinct about the edges
and rather humming
She
surrounded by an incandescent dust of moments
descends staircases of years (many of which
are quite disputable)
into the present now
which is practically deaf
to her song of eons
to record us who become her song
IV
Ligeiramente confusa com relação às quinas
e ao contrário, cantarolando
Ela
rodeada por uma incandescente poeira de momentos
desce a escadaria dos anos (muitos dos quais
bem questionáveis)
para o presente agora
que é praticamente surdo
para sua canção de eternidades
para nos lembrar que nos tornamos sua canção
…
Saguaro
Rock’s memory of the sun warms desert nights
Sand’s recollection is shorter
Soon cools to a cloudy mirror for stars
Mice and lizards print fern patterns on the restless dunes.
Walking to enjoy the stars and mountains
I find a saguaro still blooming at midnight
Transient perennial beauty remembers the sun
Through a whole year of darkness.
Saguaro
A memória que a pedra tem do sol aquece as noites no deserto
A lembrança da areia é menor
Logo esfria para de um enevoado espelho para as estrelas
Ratos e lagartos deixam tatuagens de samambaia nas dunas inquietas.
Caminhando para observar as estrelas e as montanhas
Eu encontro um saguaro ainda florido à meia-noite
A beleza transiente e perene se lembra do sol
Através de um ano inteiro de trevas.
…
For Allen, on his 60th birthday
Having been mellow & wonderful so many years
What’s left but doting & rage?
Yet the balance of birthing & dying
Keeps a level sight: Emptiness, not
Vacancy, has room for all departure &
Arrival; I don’t even know what
Day it is.
Para Allen , em seu 60º aniversário
Sendo jovial & maravilhoso por tantos anos
O que resta senão paixão e fúria?
No entanto, o equilíbrio entre nascer & morrer
Mantém a visão nivelada: O vazio, e não
O vácuo, tem lugar para todas as partidas &
Chegadas; eu nem mesmo sei
Que dia é hoje.