Corpo de pedra
Quero embrutecer feito pedra
sob os musgos, sobre os musgos,
saia cobrindo-me de silêncios
pedra de pedra
em lasca
perdida em meio à areia das praias
perdida em meio aos quintais dos satélites
Quero aquietar feito mato
manso, de talos ondulantes
perdido em meio aos campos
perdido em meio aos sonhos
perdido em meio ao escuro e aos mistérios
Quero meu corpo de pedra, mato,
fogo e lama,
o que abre suas fendas, feridas e
não reclama,
ele
sabe que, além de odiar,
ama
…
Chácara
zumbem astros
alguns insetos,
o demo no sangue,
epiléticos na luz,
quem baba este
este zumbido
cor de lâmpada?
…
Marés
gritos de sol
espetam brilho de ponta
no mar quase sonâmbulo.
Sem vento
…
Onde?
Estão onde
os dentes que perdi
com o idioma familiar,
a língua presa em rio seco?
Habitam onde
os escombros que vivi
eternidade solitária
as pernas soltas no infinito?
…
Pardais
Os pardais, párias das pátrias, pontes e parques,
me comovem os pardais.
Ciganos, mutantes,
errantes à procura de nada,
nem sentimentos, nem pouso, nem paz
querem os pardais,
a voar pela vida e pelos quintais,
filhotes dos ais
e dos pios atonais
…
Qualquer estrela
Vou convocar todas as estrelas,
das mais belas às vagabundas,
todas com seu brilho
rico, tênue ou vulgar,
o céu mais azul,
de azul dolorido
em meio a parabólicas,
satélites, dores
e a gordura da lua
A lua barriguda
tecida num pasto vivo,
vivo de ardume, cardume e alma
pleno de estrelas vadias
o cintilar arrumado
em um cinto que rodeia
desordenado
o teu corpo