Nuvens cianóticas
Que icem as velas
os medíocres
— mas deixem as minhas naus
singrarem as auroras
(meu corpo
desaguar [aéreo]
no dorso imutável
das Guianas).
Que minhas asas
não derretam sob
o sol equatorial
& as nuvens cianóticas
se espalhem ao primeiro
sinal de pôr do sol
(ah, que o medo se esforce em
cativar compaixão).
…
Psicodélico [in blues]
psicodélico [in blues]
como o voo lerdo das estrelas cadentes
& o pouso improvisado de uma arara azul;
que não nos devorem as crenças
– os costumes não nos moldem
& que matinta pereira nos resgate do inequívoco;
que a maldade deixe suas armas no cais de arrimo
& o acalanto faça soar o manifesto
da não arrogância (bélica).
ah, que possamos imitar
os olhos da cabocla que se banha
— meiga — na foz do cabo orange.
…
Balé de vozes
(Para Natalina Ribeiro)
a menina baila
sobre a infância
terna
(Macapá era um zéfiro
a roçar em suas pernas)
baila a menina
em tardes mudas
– distâncias eram vozes
& sinfonias do atrás
(Macapá era um cântico
que emanava do rio-mar).