Poemas de Mariana Paz

Leia quatro poemas inéditos de Mariana Paz
Mariana Paz, autora de “A matéria mais suja do dia”
01/05/2022

o lenço sobre o rosto
o seio torcido entre as mãos

a manivela do tempo

a mão alcançando
não a súplica
mas a ordem

a sorte é uma vela acesa

ah se eu pudesse correr mais rápido e construir o mundo contra o mundo
ah se eu pudesse gritar mais baixo — o sussurro

ser tocada pela mão que vigia o dia
e dispor da carta para ungir
a ferida noturna

o pão a partir-se todo
a voz em missão de gênese

espera na água fresca
o poema esquecido
entre os nãos e as pontas
da rede

os músculos tesos
seu peso sobre as coxas
trago do rio

a rede pesa e estala
um vento
um abraço extático

o pelo a romper o pescoço
o selo sobre a bainha
a cela a anoitecer

manta pousada
na placidez do sonho atmosférico

as plêiades

rendas da escritura
oculta entre os mundos

o invisível assume aqui
a lágrima visível

na terra
espiam os lobos

sigo os ossos

renda a contornar o vazio
a forma sobre o tempo

a olhar o que permanece em órbita e brilha — a estrela
o que fenece e torna a nascer — a flor

Mariana Paz

Nasceu em Minas Gerais, em 1976. Escritora e artista plástica, é autora dos livros de poesia Verbo do rio (2019) e A matéria mais suja do dia (2021).

Rascunho