ímã
caminhar como ímã
de um polo só
repelir o próximo
sem querer
mover o corpo
até o campo
magnético
ceder
formar as linhas
de força
flutuantes dos
passantes
preencher a rua
com a oquidão
entre o abraço
e a lonjura
há de voltar a ser
escolha
de toda e qualquer
criatura
Maio/2020
……….
mão
craquelê ressecado no dorso da mão
de tanto esfregar água e sabão
no grande sertão onde a água falta
o mesmo desenho sobressalta
não na palma protegida
mas no dorso da mão
escondida na cidade desertada
ver os córregos dos rios nas veias
transbordantes alterar seus cursos
ou nada, tudo em vão
Abril/ 2020
……….
zoom
envelheci nesses quatro
meses confinada
penso no porquê:
pandemia, pandemônio
perda de peso
que fez a pele
do rosto sobrar
ou quem sabe
só estou a reparar
demais em mim
em meu rosto no quadrado
da plataforma de encontros
virtuais
agora para ver os outros
para que me vejam
preciso também me ver
(por que não posso ligar
a minha câmera só para você?)
é algo mais ou menos
como se nos encontros
físicos
os outros diante de mim
dobrassem o cotovelo e
a mão na altura do ombro
carregasse um espelho
(uma espécie de armadilha?)
permanente
na minha direção
e vice-versa
tanto reflexo
dói os olhos
julho/2020