Quando te retiras das tarefas cotidianas
e pequenas coisas, não entras em solidão.
Quando te isolas das pessoas, não entras
em solidão. Ou te fechas em preocupações
e trabalhos, mesmo escrevendo livros,
não entras em solidão. Ou te trancas
em teu quarto ou em teu coração, não
abres a porta da solidão. A solidão é uma
Frondosa Árvore que te cobre de sombra
na inclemência e te abastece de frutos,
fortalecendo para o encontro. O desejo
arde de amor no desamor. A figura
na desfigura ganha rosto, o gosto antes
insonso ganha sabor e o verbo, carne.
…
Aceito ser poeta da escrita
ausente. Aceito ser o conduto
das águas e a água da travessia.
O instrumento da melodia
e a melodia perdida, o lombo
do mensageiro, seus bolsos
e sapatos, sua manta e chapéu,
seus remendos e cicatrizes.
O mensageiro da mensagem
adiada, cifrada, engolida,
da carta extraviada, do envelope
lacrado na correnteza. Aceito
dobras e dobras de um papiro
a ser desenrolado e alguém diverso
de mim, apartado de mim,
disperso de meu ciclo, algures,
além, inventar quem eu sou.
…
Cartilha de tombos
A melhor aprendizagem está na Cartilha
dos tombos. Os joelhos bem o sabem.
Cada tombo é uma escada reversa,
com flores e ascensão mais funda.
O tombo tem vários tomos de sabedoria
e lágrimas em revelo de alegrias.
Tombo da janela para o pátio. Tombo
da quimera para a realidade. Tombo
do amor para os desamores. Tombo
fruta madura, da árvore para o chão
e germino. Tombo de dentro de mim
em pedacinhos para o encontro.
Tombo dos desencontros para o Livro.