Poemas de Marco Vasques

Leia os poemas "Vasos de seios" e "Árvores de cemitério"
Cupido e Psique, de François Gerard (1798)
01/05/2003

Vasos de seios

Quem beija meu filho, minha boca adoça
Lima Barreto

I

A tortura maior,
veio com a morte
de meu filho.

A brancura precisa da brancura.

Cortei meus seios
e semeei sobre
meu filho.

A escuridão precisa da brancura.

II

Os seios de minha mãe
foram comidos pela terra.

Devem romper
em algum olho d’água.

III

Só os seios de minha mãe
deram à candura

ósculo branco.

Menino andarilho carrega
ampulheta do amor:

os seios de minha mãe.

Árvores de cemitério

I

As árvores de cemitério
nascidas sobre os túmulos
sopram almas pelas folhas.

Fiéis ao adubo dúbio do vida,
com seus etéreos vestidos
negros

Chamados: sombras

II

Senti ternura na eternidade:

pedra umedecida pelo suor
da sombra da árvore.

III

Árvores de cemitério
não secam.

Vasos frágeis repousam
em seu cântaro.

Marco Vasques
Rascunho